O tempo é das mulheres

Publicado em 20/04/2024 as 10:01

Essa semana, reencontrei em São Paulo o amigo de infância Silveira Savio e passamos uma tarde relembrando os tempos de criança na nossa capital, ambos oriundos do interior. Tudo embalado por um bom chope no Bar Brahma, na esquina mais poética da cidade. Como Caetano cantou, "alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João". O local, nascido em 1948, testemunhou os momentos mais marcantes de nossa história desde então, trazendo consigo o melhor da gastronomia e da música paulistana. É um tributo à cidade, à sua cultura e à sua tradição, uma inspiração para gestores que verdadeiramente se importam com o lugar onde vivem.

Enquanto relembrávamos nossa infância, discutimos sobre os antigos e novos políticos da nossa terra, e, é claro, a conversa acabou chegando às eleições para prefeito no segundo semestre. Em uma cidade que só elegeu homens como José Conrado de Araújo, Goldofredo Diniz, Cleovansóstenes Aguiar, Heráclito Rollemberg, José Carlos Teixeira, Jackson Barreto, Viana de Assis, Wellington Paixão, José Almeida Lima, João Augusto Gama, Marcelo Deda e Edvaldo Nogueira, alguns dos quais apoiamos e outros não tanto.

Após muitas trocas de memórias, histórias e causos, chegamos à conclusão de que Aracaju merece uma prefeita, uma voz feminina que traga um olhar materno, responsável e amoroso para nossa capital, guiando-a para o futuro enquanto honra o passado e respeita as tradições. Precisamos de líderes que se preocupem com as causas sociais e não com as redes sociais, que estabeleçam um vínculo afetivo com a população e compreendam que o verdadeiro progresso não vem da esmola ou do entretenimento vazio, mas sim do cuidado genuíno pela cidade e seus habitantes.

Silveira Sales observou que este ano a cidade está repleta de candidatas, e eu concordei, porém salientei que as decisões ainda estão nas mãos dos homens, muitos dos quais perpetuam uma mentalidade machista e elitista na política. Candidatas como as Delegadas Katarina e Daniela, que surgiram com a onda do bolsonarismo, têm méritos, mas preferiria vê-las defendendo-nos em vez de nos administrando. O que me informam é que são boas pessoas e capazes. Infelizmente, suas candidaturas ainda dependem das decisões de homens poderosos como o Governador e o Senador.

A jovem Deputada Federal Yandra Moura desponta como uma opção promissora, com sua juventude e simpatia, e um projeto de campanha sólido. No entanto, é importante não deixar que sua candidatura seja envelhecida pela associação com o ex-governador Belivaldo, que carrega uma alta taxa de rejeição, além de ser um ogro sem simpatia nenhuma. Um bom vice para ela seria Fabiano Oliveira, jovem e mais conhecido entre os pré-candidatos.

O PT apresenta uma candidata totalmente desconhecida da política e da cidade, fruto de uma estratégia do Senador Rogério, que parece se importar mais consigo mesmo do que com seu partido. No outro espectro da esquerda, surge como pré-candidata a jovem Niully Campos, um nome promissor que deveria estar ao lado de Iram Barbosa, liderando a chapa do Psol para vereadores, enquanto a Deputada Estadual Linda Brasil assumiria a disputa pelo Palácio Inácio Barbosa. Linda, uma educadora, política e ativista transfeminista pelos direitos humanos e da comunidade LGBTQIA+ de Sergipe, traz consigo uma visão progressista que busca trazer um choque de realidade do novo século e modernidade a uma capital tão jovem e ainda tão presa a ideias retrógradas.

Ao final da tarde, já um pouco alterados pelo chope e pela música, caminhamos pela Ipiranga até a catedral da Sé e, juntos, pedimos uma luz para nossa gente, tão carente de informação e frequentemente refém de políticos oportunistas e egoístas, cujo único interesse parece ser o poder e o dinheiro, em vez do bem-estar do povo e da preservação da história da cidade. Enfim, Aracaju é Linda! Um viva as mulheres!

*Miguel Lins, professor