A Cultura Vive

Publicado em 18/03/2024 as 08:31

Olá gente boa!

A intensa batalha contra a cultura que teve início em 2016 no país, dividiu opiniões entre a direita, que via cultura e arte como domínio exclusivo dos esquerdistas, e da extrema direita, que nutria um medo profundo dos artistas, culpando-os pela suposta falha única da ditadura em não erradicar os “comunistas culturais”. Isso, para eles, enfraqueceu o regime militar como um todo.

Durante os governos de Costa e Silva e Médici (1967-73), a disputa política atingiu seu ápice com protestos e marchas liderados por estudantes, artistas e intelectuais nas principais cidades do país. O governo reagiu com mais repressão, culminando no decreto do AI-5 em 13 de dezembro de 1968, um momento considerado por muitos como um “golpe dentro do golpe”.

Após a suposta restauração da “ordem institucional” – conforme declarado pelos governantes -, o governo do General Ernesto Geisel tentou iniciar uma “distensão” do regime em seus primeiros pronunciamentos como presidente. Ele procurou apaziguar a situação e iniciar um diálogo, especialmente com os intelectuais e artistas brasileiros, reconhecendo sua importância na busca pela liberdade.

Nesse momento de vislumbre de uma possível abertura e desejo de diálogo, isso ressoou nos círculos culturais, refletindo nos planos governamentais para a cultura e nas expectativas dos produtores culturais. Foi quando a preocupação dos militares com a cultura se tornou mais evidente, com alguns temendo confrontos, outros cansados do autoritarismo, e outros ainda receosos do enfraquecimento do governo e do fim da ditadura.

Com muito esforço e adaptação, foi aprovado o projeto da Política Nacional de Cultura em 1975. Esse período testemunhou uma expansão significativa das ações do Ministério da Educação e Cultura (MEC) na área cultural, incluindo a criação de diversos órgãos como o Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA) e o Conselho Nacional de Cinema (Concine), além de reformulações e expansões em setores como o teatro e o cinema.

Um momento crucial foi a abertura para que setores artístico-culturais, especialmente do cinema e teatro, escolhessem diretamente seus representantes para cargos de direção nos órgãos oficiais. Isso sinalizou para a extrema direita o fim iminente do regime autoritário que tanto almejavam.

Quando Bolsonaro e sua equipe extremista assumiram o governo, trouxeram consigo os antigos ressentimentos e a convicção de que era necessário suprimir a cultura imediatamente para evitar repetir os erros do passado. Esqueceram, porém, da lição fundamental: é possível manipular até o ensino nas escolas militares, mas nunca a cultura de um povo.

Agora, temos novamente a oportunidade de fortalecer nossas bases culturais, estabelecendo uma política pública de estado e perene, com participação ampla e sem rancor, abraçando a todos. Precisamos valorizar a cultura e seus criadores, priorizando a formação, qualificação e informação. Devemos lembrar que enquanto eles usam borrachas para apagar o passado, nós usamos canetas para escrever o futuro. É hora de promover a igualdade, expressar-nos em versos e canções em prol do respeito mútuo, contar nossas histórias para deixá-las gravadas na memória dos nossos irmãos e lutar incessantemente pela liberdade e democracia. Grite, ouse, respire e faça acontecer. Não deixe a luz se apagar.

 

*Neu Fontes, cantor e compositor.
*Matéria publicada originalmente no blog neufontes.com.br