Ataques a Moraes partiram de comunidades com grande número de contas falsas

Publicado em 24/04/2024 as 21:11

O embate provocado por Elon Musk contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes gerou um movimento significativo em duas comunidades principais do X, que se destacam por suas taxas de interação e uso de bots, de acordo com uma pesquisa do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (Netlab) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Para os pesquisadores, a atenção se deve ao perfil que apoiou o magnata, que apresentou uma alta proporção de contas falsas e demonstrou um alto nível de compartilhamento, com uma média de 1,33 conexões por conta. Por outro lado, a comunidade que se opôs ao proprietário do X, mostrou-se menos densa e engajada, com uma média de 1,19 conexões por conta, e também uma menor proporção de contas consideradas inautênticas.


A análise do NetLab levantou as postagens dos dias 8 e 9 de abril e identificou aproximadamente 90 mil posts, com 39 mil contas publicando em inglês e outras 30 mil em português. As ações de Moraes para remover perfis se tornaram o foco do confronto com o bilionário, que ameaçou não cumpri-las e tentou intimidar a Justiça Brasileira nas últimas semanas. Musk enfrenta dois inquéritos no STF.

A fundadora e coordenadora do NetLab, Marie Santini revela como foi feito o estudo. “Desenvolvemos um classificador baseado em inteligência artificial que identifica contas inautênticas. Observamos que Musk usa a plataforma dele para anabolizar o debate desde o primeiro dia do confronto digital com a Justiça brasileira”, afirma. “Quando decidiu que iria comprar o Twitter, Musk bateu muito na tecla de que a rede tinha robôs demais, para tentar baixar o valor da compra. O empresário disse que iria eliminar esse cenário, mas não é o que está acontecendo. Obviamente, ele está usando a possibilidade em prol de si, para se promover e avançar suas pautas.”

Quase 50% das postagens feitas por robôs

Das postagens em inglês, aproximadamente 41% foram originadas de contas falsas “presentes para manipular a discussão”, diz a pesquisadora. Quando se trata de perfis que postam em português, a porcentagem de contas consideradas não autênticas essa porcentagem é de 35%. Dentro da comunidade que dissemina a retórica do empresário, 49,88% das contas são consideradas legítimas, enquanto 47,97% são identificadas como robôs. Outras 2,15% não foram classificadas. Por outro lado, na comunidade que se opõe, 58,67% das contas foram identificadas como autênticas, 35,58% como robôs e 5,75% não foram categorizadas.

O estudo ainda indica uma predominância ainda maior de postagens de contas não autênticas na comunidade associada aos discursos de Musk. As contas consideradas legítimas representam 46,24%, enquanto os robôs correspondem a 53,68% e outros 0,08% não foram categorizados. Contrariamente, a comunidade que defende Moraes tem uma maioria de perfis legítimos, com 55,85%, em comparação com 44,15% de contas classificadas como robôs.

Entre os perfis reais, os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Marcel Van Hattem (Novo-RS) se destacam como contas de alta performance em compartilhar o discurso do bilionário, e os principais propulsores da rede que se opõe ao empresário foram o Sleeping Giants Brasil, a primeira-dama Janja e o influenciador digital Felipe Neto.