Crescimento de políticos negacionistas é um ‘risco enorme’,alerta cientista

Publicado em 11/05/2024 as 09:50

O aumento no número de políticos negacionistas em relação às mudanças climáticas é uma grave ameaça, segundo o cientista Carlos Nobre, já que atrasa ou até mesmo impede que sejam adotadas medidas urgentes para frear os impactos da ação humana no meio ambiente.

"O crescimento de políticos populistas negacionistas é um risco enorme. Bolsonaro não é o único. Milei é um negacionista. Trump é um super negacionista. Quando era presidente, retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. Não querem admitir os riscos das alterações climáticas e não querem implementar medidas. Trump já disse que, se vencer, autorizará a exploração de petróleo e gás natural", aponta, em entrevista ao jornalista Bernardo Gutiérrez, no site CTXT,

Nobre destaca ainda a contribuição do ex-presidente Jair Bolsonaro no cenário de devastação ambiental. "Durante o governo Bolsonaro, as emissões, o desmatamento e a degradação aumentaram muito. Bolsonaro apareceu em 2021 na Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, com garimpeiros ilegais. Deveria ter provocado um processo judicial, porque incentivar a extração mineral em reserva indígena é proibido pela Constituição", pondera.

Na entrevista, Carlos Nobre explica a relação entre as alterações no clima e a ocorrência de situações extremas como as fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul.

"O aquecimento global está tornando os eventos extremos mais frequentes e provocando a ocorrência de novos eventos em locais sem precedentes", pontua. "Por que chove mais? Há mais evaporação da água dos oceanos. À medida que a atmosfera é mais quente, ela armazena mais umidade. As fortes chuvas causam secas e ondas de calor em outros lugares. As enchentes no Rio Grande do Sul são causadas pelo bloqueio das ondas. A alta pressão permaneceu no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, e a circulação de nuvens e chuva foi bloqueada", detalha.

A responsabilidade do governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) sobre a tragédia também foi lembrada pelo cientista. "O Rio Grande do Sul abriga um dos maiores números de negacionistas do Brasil. Em 2019, Leite acertou com a Assembleia Legislativa uma série de medidas que enfraqueceram a proteção ambiental e a biodiversidade, todas com uma visão de expansão total da indústria agrícola. Se as margens dos rios fossem reflorestadas, o solo absorveria mais água. Nem toda a água da chuva iria para o rio, parte ficaria no solo", ressalta.

Os países ricos precisam se comprometer com a preservação

A reportagem lembra que Carlos Nobre foi um dos coordenadores do estudo Nova Economia Amazônica, do World Resources Institute Brasil, mostrando o elevado valor econômico que poderia ser gerado pela Amazônia sem o desmatamento. De acordo com os pesquisadores, o PIB da região poderia aumentar 67% com a exploração de produtos da bioeconomia.

"Lula defende em seus discursos, com razão, que os países ricos financiem países com florestas tropicais. Na COP28, o Brasil lançou o Projeto Arco de Restauração Florestal, para reflorestar 24 milhões de hectares até 2050. Custa 40 bilhões de dólares. É importante que os ricos ajudem. Também para criar uma infraestrutura sustentável para a Amazônia, transporte, energia. Por outro lado, o Fundo Amazônia do Governo obteve uma doação de 14 bilhões de dólares, mas precisamos de 100 bilhões. Reflorestar e criar uma nova bioeconomia com os produtos da biodiversidade", propõe.