Polarizar é preciso!

Publicado em 21/04/2024 as 12:54

A eleição municipal em Aracaju tem potencial para manter viva a polarização que marca a atual realidade política brasileira, que influencia não apenas os debates nacionais, mas também repercute em níveis regionais e municipais? A polarização ocorre quando um eleitorado está claramente dividido em relação a questões políticas, políticas governamentais e a determinadas figuras públicas. Em cada extremo é questionada a legitimidade moral e a competência do outro.

É voz corrente entre intelectuais que a polarização pode prejudicar a capacidade cognitiva racional do eleitorado, comprometendo o nível decisório. Porém, em alguns momentos, polarizar é uma medida fundamental para que a própria política possa sobreviver, através da alternância de poder. Em Aracaju, com exceção de um breve período entre 2013 e 2016, o mesmo grupo comanda a prefeitura faz 20 anos. Ressabiado, no entanto, o eleitor não encontra alternativas...

A apatia tem desmobilizado o eleitorado, que se vê sem representação viável. No segundo turno de 2020, por exemplo, Edvaldo Nogueira obteve 45,57% dos votos, enquanto a delegada Danielle Garcia, que tentava a prefeitura pela primeira vez, conquistou 21,31%. No total, foram apurados 292.304 votos, sendo considerados válidos 260.687 (89,18%); já os votos brancos somaram 2,91%, os nulos 7,90% e as abstenções 27,81%, fato que leva a crer que parte expressiva do eleitorado (38,62%) não se viu representada naquele pleito por nenhum dos dois contendores.

A situação tende a se repetir em 2024? A resposta pode advir do segundo turno de 2022, quando Lula da Silva obteve em Aracaju 57,26% do total de votos, contra 42,74% de Jair Bolsonaro. Ao todo, 5,39% dos eleitores do município votaram branco ou nulo para presidente, o que demonstra o alto grau de engajamento e um contexto de grande polarização política e social naquele pleito. Considerando que a maioria dos atuais pré-candidatos à prefeitura da Capital com melhor posição nas pesquisas se identificam como de centro-direita, e não havendo nomes da esquerda com capilaridade eleitoral para os enfrentar, o eleitor não parece disposto à polarização.

Dito doutra forma: se vier a ocorrer, a polarização certamente se dará entre candidatos que se afinam com a pauta conservadora, que reúne radicais de vários matizes, incluindo o voto evangélico, que hoje corresponde a ¼ do eleitorado. O deslocamento dos assuntos de caráter socioeconômico (emprego, direitos, saúde, educação, habitação, entre outros) para uma pauta de comportamento, que marcou o pleito de 2022, motivando a polarização, não terá força diante de problemas do dia a dia, como saúde e educação capengas, e transporte público precário.

A polarização excessiva pode prejudicar a capacidade de diálogo e a busca pelo consenso, mas a falta da polarização saudável entre campos ideológicos conflitantes também não é benéfica, nem bem-vinda para o futuro de Aracaju. Marcada por gestões predominantemente de um mesmo grupo político, a cidade necessita de um debate mais plural, que permita a emergência de diferentes perspectivas e propostas para enfrentar os desafios atuais, que são imensos, e os que estão por vir.

A diversidade de ideias e posicionamentos faz-se essencial para enriquecer o debate público e garantir uma gestão municipal mais inclusiva, transparente e eficiente. Que os eleitores estejam atentos também para a necessidade de promover a pluralidade de ideias e o pluralismo político como elementos essenciais para o desenvolvimento democrático e sustentável de Aracaju.

* João Augusto Botto Nascimento, advogado, membro da Anacrim/SE e secretário-geral do Fórum Brasileiro de Direitos Humanos.