Perene Metamorfose

Publicado em 19/05/2024 as 11:22

Olá gente boa,

Se me procurassem no passado, certamente não me encontrariam mais. O passado me ensinou que a vida é renovação constante e recomeço contínuo. Assim, se alguém me procurar no futuro, encontrará outra pessoa, outro homem. Talvez melhor, talvez pior, mas diferente, com novas visões e emoções, moldadas pelas alegrias e tristezas do passado, e pelas vivências ou não-vivências do presente.

Arrependimento por viver cada momento? Nunca! Arrependimento por não ter tentado viver? Sempre! Sei que às vezes, para não fazer sofrer, e outras, por medo de perder, hesitei em agir, mesmo quando o que temia perder jamais possuí. Outras vezes, foi a preguiça e o comodismo que me detiveram. Nunca fui enganado, nem tampouco enganei alguém conscientemente. Mas sempre tive uma fraqueza: a paixão pelo cultura, pelo talento, pelo belo que iluminava minhas ideias e clareava meus caminhos. Talentos que alimentavam minha certeza no futuro, combustível para produzir, trabalhar e compartilhar essas dádivas, pois a humanidade merece.

Nesse passado que me moldou e transformou no homem que sou hoje – mais forte, mais velho, paciente, às vezes tolerante (ainda aprendendo) – vejo um ser mais experiente, com as marcas de tudo o que vivi e experimentei. Não me encontro mais lá e nem lembro das dores que foram o início das saudades. Sinto apenas as cicatrizes, mas lembro dos cheiros, das cores, dos sabores, dos sons e movimentos. Lembro de lembrar daquele momento, daquela cena, daquele olhar.

A cada passo rumo ao futuro, esses talentos foram me deixando, cada um ao seu tempo. Alguns chegaram ao fim da jornada, trazendo sua luz para iluminar a todos nós, e sou grato por ter vivido essa iluminação. Outros foram como candeeiros que se apagaram por falta de combustível ou por falta do meu abanar, outros ainda, por não compreenderem minha paixão pelo talento e pela beleza do fazer. Aproveitei-me da troca de luz, mas nunca me aproveitei deles. As mais doloridas são as que somem, simplesmente desaparecem, deixando dúvidas e dissabores, culpas sem explicação. O que fizemos, ou o que aconteceu?

Esse passado me fez entender que não somos iguais e não podemos julgar nada, nem ninguém, nem os que sumiram. Por isso, a chama da minha paixão pela cultura, pelo talento e pelo belo nunca se apagará. Escolhi não querer mais cicatrizes, tampouco perder tempo buscando no passado, pois não estou mais lá. Entendo quem sou, o que fiz e o que estou a fazer na vida. Conheço, até aqui, todos os meus defeitos e qualidades. Foi o passado que me moldou para viver o presente e sei que construirei muitos futuros. Te encontro por lá.

*Neu Fontes, cantor e compositor.
Matéria publicada originalmente no blog neufontes.com.br