Asas Partidas!

Publicado em 08/05/2024 as 10:23

Ao partir, de “Asas Partidas”, ele ergue voo para sua jornada final, levando consigo a melodia celestial, o toque requintado da sanfona e a harmonia de um virtuoso, alçando seu curso celeste para os braços da paz. Valter dos Santos, ou simplesmente Valtinho do Acordeom, permanecerá para sempre como um ícone de nossa música. Nasceu por acaso em Penedo, Alagoas, e passou sua infância e juventude em Ilha das Flores, Sergipe, onde começou a observar seu pai, que tocava cavaquinho em um grupo de Choro.

Proprietário de um bar na cidade, o grupo se apresentava diariamente, e aos sete anos Valter pegou o cavaquinho do pai e começou a tocar, surpreendendo a todos. Um comentário de um amigo de seu pai o fez desistir do cavaquinho, pois o amigo disse: “Seu filho vai tocar mais do que você”. Ouvindo isso, Valter pediu ao pai que comprasse uma sanfona, pois não queria ser concorrente do pai.

Conheci Valter tocando teclado em algumas bandas, como Brasa 10, Apaches e Los Guaranis, mas o que me chamou a atenção foi quando ele estava no Trio Atalaia. Fiquei impressionado com a destreza de sua mão direita, era uma agilidade e musicalidade incomuns. Anos depois, quando montamos o Circo Amoras e Amores, fui encarregado por Jorge Lins de reunir os músicos que fariam parte da banda base do circo. Ao visitar os bares da cidade em busca desses artistas, reencontrei Valtinho, como era conhecido, e o convidei para fazer parte do grupo. Assim, a banda foi formada: Valtinho no teclado, Lito Nascimento na guitarra e no violão, Flor no baixo, Ednor na bateria e Rogério no vocal.

Tocamos juntos, e eu sempre o convidava para fazer parte das bandas dos festivais que coordenei. Um desses festivais foi o Canta Nordeste, onde Valtinho se transformou em “Valtinho do Acordeon” depois de tocar e arranjar “Coco da Capsulana” de Ismar Barreto e João Alberto, interpretada pela grande Amorosa. Desde então, Valtinho se revelou um grande sanfoneiro, elogiado por Dominguinhos como um dos melhores do Brasil.

Do jazz ao forró, Valtinho é o maior, sem dúvida cantaria Luiz Gonzaga. “Tocar é como se eu estivesse rezando para fazer as pessoas felizes”, disse Valtinho, e ele certamente deixou tantos corações e mentes mais luminosos ao ouvi-lo, com suas melodias poéticas e uma sonoridade divina. Vá em paz, irmão.

 

*Neu Fontes, cantor e compositor.
Matéria publicada originalmente no blog neufontes.com.br