Não sou Influencer. Quero ser Inspiração.

Publicado em 14/06/2024 as 12:32

Vivemos em uma era onde a confusão entre influência e inspiração está mais presente do que nunca. Políticos são mais conhecidos por seus escândalos, festas e selfies do que por seus ideais e trabalho para o povo. Atletas e artistas dedicam mais tempo aos seus cortes de cabelo, carros, moças e moços de ombros largos e bundas grandes do que ao desempenho em suas tarefas. Músicos enchem estádios com seus hits pasteurizados, todos iguais em temas, melodias, harmonias e ritmos, mas não conseguem preencher o vazio de nossas almas. Grandes corporações ganham nossa confiança com discursos pomposos, enquanto suas ações éticas são questionáveis. Alguns querem até deixar o mundo para morar em Marte. E, de repente, novas vozes emergem e passam a ditar regras e comportamentos, se colocando como a voz do divino, quando não se comparam a Jesus. Eles não sabem que Jesus não foi nenhum influenciador, e sim o maior inspirador de paz, harmonia, felicidade e respeito entre os homens.

Tem rapazola que nem tirou o cheiro do mijo e se elegeu em nome de Jesus, dos bons costumes e da família, mas agora deixou de usar Jesus e trocou por Davi, uma figura do terceiro time da Bíblia, só para influenciar os pós-Israel. Não são gurus, tampouco ídolos. Não são exatamente amigos, nem tecnicamente mentores, e possivelmente não são verdadeiros. O que são, então? E como distinguimos o ato de influenciar do dom de inspirar?

Inspiração é como uma brisa suave que nos envolve e desperta algo profundo dentro de nós. É uma sensação que nos impulsiona a ser melhores, a criar, a sonhar. Pense nos grandes artistas que, com seus pincéis e cores, capturaram a essência do mundo em uma tela. Eles não nos dizem o que fazer, mas nos mostram o que é possível. Inspirar é evocar um sentimento, um desejo de mudança que nasce de dentro.

Quando vejo uma bailarina, como Lú Spinelli, ou Cecilia Cavalcante, Cleanis Silva, Natalia Reis, Ana Botafogo, dançando no palco com tal graça e paixão, desafiando o equilíbrio e a lei da gravidade, consigo por um momento esquecer o mundo ao nosso redor. Não há palavras, apenas movimento e emoção. Essa é a essência da inspiração. Ela não força, não exige; simplesmente existe e nos convida a participar dessa dança mágica da vida. Na minha infância e juventude, meus grandes inspiradores foram músicos, cantores, compositores, poetas, mestres da cultura popular, artistas que, com sua arte, nunca me exigiram nada. Eles me ensinaram a ser que eu quisesse ser e a sentir o que faziam. Nunca usaram a palavra do outro e não se julgavam mais importantes que ninguém. Queriam deixar seu legado, sua arte, sua música, a sua verdade sem maquiagem. Assim, inspiraram as minhas verdades.

Como aqui é um espaço de memória e inspiração, deixo registrado nomes que possam servir de inspiração para pesquisas e para entender nosso caminho nas artes: João Argollo, Henrique Sousa, João Melo, Maria Olivia, Mestrinho, Erivaldinho, Erivaldo de Carira, Clemilda, Edgar do Acordeon, Pedrinho dos Santos, Alexi Pinheiro, Denys Leão, Joésia Ramos, Emanuel Dantas, Genival Nunes, Jorge Lins, Lu Spinelli, Mestre Deca, Cecilia Cavalcante, Nery, Aglaé Fontes, José Calazans, Lindolfo e Antônio Amaral, Rubens Lisboa, Cleanis Silva, Nadir, Gena e Thiago Ribeiro, Val França, Leornardo e Hunald Alencar, Pedro Lua, Joaquim Antônio, Alberto Silveira, Saulo Ferreira, Ricardo e Rebeca Vieira, Ézio Deda, Marcelo Ribeiro, Zé Rolinha, Maria da Conceição, João Ventura, Chico Queiroga, Lula Ribeiro, novos e maduras inspirações que me ajudaram a construir minha caminhada.

Influenciar, por outro lado, carrega um peso de intenção e direção. É o ato de moldar comportamentos, opiniões e decisões. É um poder que pode ser usado para o bem ou, como frequentemente acontece, para o mal. Na publicidade, por exemplo, os marqueteiros sabem exatamente quais botões apertar para nos fazer querer algo. É uma manipulação sutil, mas eficaz, que muitas vezes nos leva a agir de maneira quase automática e burra. Visualize seu político favorito, “coisa que já é por si só uma tremenda idiotice, ter político favorito, pois em sua grande maioria só pensam neles mesmos”. Ele é carismático, discursando com fervor diante de uma multidão. Suas palavras são cuidadosamente escolhidas para provocar uma reação específica. Ele não está apenas comunicando; está moldando percepções e direcionando ações. A influência pode ser poderosa, mas também muito perigosa, pois pode nos levar por caminhos que nem sempre escolhemos conscientemente. Como “Os festejos juninos do nordeste”, eles jogam com o passado e o tradicional, dão o discurso de manutenção e valorização da identidade do povo, mas mudam todas as características do tradicional, corrompendo nossa identidade descaradamente, e aceitamos e defendemos isso como nossa tradição.

Na minha jornada pela vida, encontrei ambos: influenciadores e inspiradores. A chave está em reconhecer a diferença e aprender a valorizar o que realmente nos toca de forma genuína. Um mentor verdadeiro inspira com seu exemplo, como Jesus, que teve sua vida dedicada a isso, até os fariseus, influenciados por falsos líderes, o matarem.

Em um mundo saturado de informações e influências, é vital cultivarmos nossa capacidade de discernir e buscar aquilo que realmente nos inspira. Devemos nos cercar de pessoas e experiências que nos elevam, que despertam nossa criatividade e nos fazem sentir vivos. Que possamos ser como os artistas, que, com suas obras, não apenas influenciam, mas principalmente inspiram. Que nossas vidas sejam paletas de cores vibrantes, onde cada escolha é uma pincelada que contribui para a obra-prima que somos e que aspiramos a ser. Assim, navegamos entre influenciar e inspirar, encontrando o equilíbrio perfeito e criando um mundo onde a autenticidade e a inspiração prevalecem. Estamos órfãos de pensadores, de líderes. Para ser mais exato, de inspiradores.

*Neu Fontes, cantor e compositor. *Matéria publicada originalmente no blog neufontes.com.br