A Vitalidade Cultural de Jorge Lins

Publicado em 27/03/2024 as 07:07

Olá gente boa,

Ao som apaixonante de “Meus heróis morreram de overdose”, uma icônica canção dos anos oitenta de Cazuza, sou transportado através das décadas, navegando por diferentes gerações, uma mistura única de experiências que definem minha identidade. Nascido na era dos Baby Boomers e criado na vibrante atmosfera da geração X, me vejo como um herdeiro de uma era pós-guerra, sedento por vida e determinado a realizar sonhos.

Adentrei o mundo aos cinco anos de idade, imerso na efervescência da geração X, uma época invejável, onde os limites eram desafiados e as regras pareciam desaparecer. Testemunhei os grandes eventos que moldaram o curso da história: desde a união icônica dos talentosos Beatles nos anos sessenta, até a emocionante chegada do homem à Lua em 1969. Assisti maravilhado aos feitos lendários de Pelé, Garrincha, Zico e Maradona nos campos de futebol, e celebrei a queda do Muro de Berlim em 1989. Uma geração que, apesar de seus erros, deixou um legado duradouro para as gerações futuras, um legado que ainda testemunhamos e perpetuamos.

Navegando pelas ondas da evolução tecnológica e do florescimento dos meios de comunicação, a geração X desfrutou de estabilidade tanto profissional quanto familiar, permanecendo ativa e engajada, tanto fisicamente quanto mentalmente. Ainda que integrados ao mundo 4.0, somos menos dependentes dos smartphones do que as gerações subsequentes, mantendo um equilíbrio entre o analógico e o digital.

Não sou um especialista em gerações, mas sim um sobrevivente, um observador atento das transformações ao meu redor. Em cada momento da vida, somos confrontados com escolhas, e eu escolhi o caminho da produção e do aprendizado. Devo minha jornada de crescimento e conhecimento aos meus professores, cujo legado de construção e respeito moldou minha trajetória.

Minha infância resplandecia com exemplos de rebeldia e criatividade, permeada pela alegria contagiante que fluía dos cantos de minha mãe Susete e das risadas animadas de minhas irmãs, Ana, Sandra e Simone. A amizade calorosa da família Milson e Lucy Barreto também deixava sua marca em nossa casa. Éramos uma das primeiras residências a possuir uma radiola portátil, um tesouro que me permitia explorar as melodias da nova e velha guarda da música mundial. E quando uma televisão em preto e branco, com suas imagens oscilantes, adentrou nosso lar, foi como abrir uma janela para o mundo, graças ao espírito empreendedor de meu pai Irineu.

Ele, com sua visão audaciosa, trouxe para nossa comunidade a primeira torre repetidora de televisão, erguida no Morro do Urubu. Uma imensa antena foi instalada em nossa casa na Rua Divina Pastora, amplificando e aprimorando a recepção das imagens, transformando nossos momentos em frente à TV em experiências ainda mais vívidas e emocionantes. A inovação e o pioneirismo de meu pai não apenas nos conectaram ao mundo exterior, mas também enriqueceram nossas vidas com novas formas de entretenimento e aprendizado.

Ao longo dos anos, tive o privilégio de conhecer uma miríade de mentes brilhantes e talentosas, desde músicos e poetas até políticos e visionários. Entre eles, destaco aqueles que deixaram uma marca indelével em minha formação intelectual e cultural, como Mario Jorge, Carnera, João Melo, Gene Augusto, Lineu Lins, Amaral Cavalcante, Hunald Alencar, Leonardo Alencar, Aglaé Fontes, Alcides Mello, Ilma Fontes, Joubert Moraes, João Oliva, Jairo Bala, Murilo Melins, Alvino Argolo, Henrique Sousa, Marcos Chulé, Lú Spinelli, Irmão e Tonho Baixinho, Nery e Valdefré, Nego Beto, Lobinho, José Calazans, Denys Leão, Genival Nunes, Alexi Pinheiro, Sergio Fontes, avani Fontes, Luiz Eduardo Oliva, João Argolo, Luiz Antônio Barreto, Dona Lalia, Aberlardo Neto, Hugo Costa, Pantera, Lula Ribeiro, Zé Rolinha, Mestre Deca, Mestre Sales, Eribaldo Prata e tantos outros que chegaram de novas gerações, como: Elber Batalha, Cecilia Cavalcante, Ézio Deda, Tiara Camara, Silvana Sodré, Raimundinho Oliveira, Valdo França, Hamilton Maciel, Dilson Barreto, João Gama, Jorge Carvalho, Hildênia Oliveira, Alisson Coutto, Saulo Ferreira, Alberto Silveira, Manuel Vasconcelos, Antônio Rolemberg, Helvio Doréa, cada um contribuindo à sua maneira para enriquecer minha jornada.

Entre esses heróis, destaco com imensa gratidão Jorge Lins de Carvalho, cuja vitalidade e criatividade continuam a inspirar gerações. Nascido em Aracaju em 4 de abril de 1957, Jorge dedicou sua vida ao teatro, fundando o grupo Raízes e escrevendo mais de 130 peças que encantaram meio milhão de espectadores, em sua maioria crianças e adolescentes. Sua paixão pelo teatro se manifesta não apenas em suas produções, mas também em seu papel como educador, gestor e empreendedor cultural. Em minha humilde opinião, Jorge deve ser reconhecido como o maior criador e agente cultural do século XX em Sergipe, e seu impacto continua a ser sentido no século XXI. Conhecido como o “rei das homenagens”, Jorge Lins tem um profundo compromisso com a valorização daqueles que contribuem para o cenário cultural e deve ser homenageado por todos.

Jorge Lins é um verdadeiro artífice de projetos e iniciativas culturais, deixando um legado valioso para o teatro sergipano e brasileiro. Sua incansável dedicação resultou em inúmeros projetos, programas, prêmios e festivais, como o Circo Amoras e Amores, o Festival Novo Canto e o Prêmio Educar-se, Pano de Boca, Sexta no Parque, Clave de sol, Gincana Ilha do Tesouro, Festival de Verão, Sanfona de Ouro, Festival Voz e Violão, Destaques da Cultura, Prêmio Mundo Pet, Prêmio Mulheres, Prêmio Bike Stars, Prêmio Esporte, Prêmio Veículos e Prêmio Moda Sergipe. Além de ter proporcionando oportunidades a centenas de artistas e profissionais do setor.

Assim como o poeta que clamava por uma ideologia para viver, Jorge Lins nasceu com uma ideologia intrínseca, impulsionado pelo desejo de deixar um legado para sua geração. Sinto-me profundamente feliz e honrado por ter compartilhado momentos ao lado desse gênio da cultura, aprendendo e contribuindo para seu legado. A vida é moldada pelo passado, mas se desdobra no presente. Apenas compreendendo nossas raízes podemos moldar o futuro. Viva Jorge Lins de Carvalho, uma luz radiante na tapeçaria cultural de nosso tempo!

*Neu Fontes, cantor e compositor

*Materia publicada originalmente no blog neufontes.com.br