Projeto Oficina de Papel cria arte e ajuda o meio ambiente

Publicado em 15/02/2018 as 13:31


O cuidado com a preservação do planeta pode ser terapêutico e divertido. O projeto "Oficina de Papel", desenvolvido pela Prefeitura de Aracaju, através da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), é um exemplo. Nele, artesãs reciclam jornais e os reutilizam para criar peças artísticas. Além disso, são ofertadas oficinas e cursos para aqueles que, como elas, procuram mudar o mundo na soma dos pequenos gestos.

O projeto surgiu em 1997, com o intuito de conscientizar a população sobre a necessidade de preservação ambiental, em consonância com os debates realizados para a assinatura do protocolo de Quioto. O ocidente todo começava a preocupar-se com temas discutidos até hoje, como o aquecimento global e suas consequências para o futuro da nossa espécie. Desta maneira, a necessidade de reduzir o impacto do lixo produzido entrou em voga e virou política pública. Reciclar virou sinônimo de compromisso com um futuro melhor. "A ideia é mostrar para a população que produtos que aparentemente não possuem mais serventia podem ser transformados em artesanato. Utilizamos a reciclagem sem fins lucrativos, apenas pelo prazer de contribuir com o meio ambiente", explica Jarleane Souza, artesã.

As peças criadas no ateliê, localizado no Parque da Sementeira, normalmente são doadas para a decoração de outras secretarias. O trabalho é exposto com frequência tanto em eventos públicos quanto privados, e em 2017 mais de 800 obras foram criadas no local, fruto do trabalho de uma equipe de 11 profissionais.

Além da confecção das obras, eles desenvolvem cursos e oficinas para os interessados no tipo de artesanato realizado pelo projeto. Para que isso ocorra, a pessoa ou a instituição que desejar as aulas deverá preencher ofício endereçado à Emsurb. O curso dura normalmente duas semanas e deixa o estudante apto a transformar os jornais naquilo que sua imaginação inventar.

Arte é terapia

Com o avanço do mundo digital sobre nossas vidas está ficando cada vez mais rara a realização de trabalhos manuais. Digita-se mais do que se escreve, por exemplo. Ainda assim, algumas pessoas ainda conseguem se sentir recompensadas com o fruto do talento de suas próprias mãos. "É muito gratificante. Eu considero o nosso trabalho uma terapia, pois quando você começa a tecer uma peça a concentração necessária alivia o estresse e a ansiedade que a pessoa estava sentindo antes de começar", afirma Jarlene.

Com mais de 20 anos de história o projeto costuma criar fortes laços de amizade. As artesãs mais antigas repassam sua experiência para os novatos, ressaltando a importância do trabalho realizado no local. Tereza Ribeiro, por exemplo, está há 18 anos ensinando o ofício para os mais novos. "Eu passava em frente à oficina e ficava admirando. Na época, eu trabalhava na Guarda Municipal. Então, surgiu uma oportunidade e eu me transferi para fazer parte dessa família", lembra.

Quem também relembra com alegria quando começou a trabalhar do local é a artesã Eliane Nascimento, também com 18 anos de projeto. "Tenho quase 25 anos de serviço público. Atuei em diversas funções, mas aqui é onde me sinto bem. Algumas vezes posso até ter algum problema em casa, mas quando começo a tecer me tranquilizo", ressalta.

Novos tempos, novos desafios

Se 18 anos atrás o que preocupava as duas artesãs era sua inexperiência, atualmente o que as inquieta é a redução no recebimento de matéria prima para trabalhar. Acontece que os principais fornecedores de jornais para a iniciativa eram as doações das próprias empresas de comunicação, além de órgãos públicos e outras companhias privadas, no entanto com a crise no modelo de negócios da indústria jornalística a circulação dos impressos diminuiu consideravelmente. "A gente ainda produz bastante, mas o ritmo diminuiu se compararmos com a década passada, por exemplo", afirma Jarleane.

A expansão da internet e popularização dos smartphones colocaram em xeque o modelo tradicional de negócios no Jornalismo. Com a informação disponível quase instantaneamente após o fato e guardada no bolso, o impresso foi perdendo aos poucos a notoriedade que ganhou ao longo dos anos. "A crise é na indústria do Jornalismo. As empresas estão buscando viabilizar-se economicamente para além do impresso, que possui custos mais altos do que produzir notícias online. De qualquer maneira, a função social do jornalista continua a mesma e não perdeu sua importância em face aos novos tempos", explica Carlos Franciscato, doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas e professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS).