Tempo Bom dos Showmícios!

Publicado em 28/05/2024 as 10:48

Olá gente boa,

Com as novas leis das eleições, os artistas – especialmente cantores, músicos e produtores – perderam um espaço importante para ganhar dinheiro, mostrar seu talento para grandes públicos e animar comícios que, convenhamos, muitas vezes são mais chatos que assistir tinta secando enquanto você lê um dicionário de trás para frente. As falas sem pé nem cabeça, monótonas e muitas vezes mentirosas, eram o prato do dia, e o público só ficava para ver os shows dos artistas que abriam e fechavam esses comícios. Mas, era o momento também dos políticos que sabiam se comunicar, aqueles que tinham algo de verdade para dizer, era a hora de angariar mais votos. Era o momento do contato com o povo, e dos eleitores tirarem suas dúvidas sobre o pretenso candidato, geralmente começando com: “E aí, vai cumprir alguma coisa mesmo?”

Participei de diversas campanhas, nos famosos showmícios, como também compondo jingles para os candidatos. Alguns amigos brincam que eu não vou para o céu de jeito nenhum, já que fazia música para todos os candidatos, sem discriminação, elogiando a todos como se fossem santos em campanha de canonização. Na verdade não era bem assim. Algumas campanhas foram grandiosas; em uma delas fiz mais de 40 shows, tocando em todo o estado. Abri shows para Sara Jane, Rosana, Banda Mel, Banda Reflexos, Fagner, Nando Cordel, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Wando, Chiclete com Banana, entre outros nomes da música brasileira.

Em todo palco do estado, o público conhecia minhas músicas e cantava junto comigo. “Chinfra de Cinderela”, “Lua de Gozo”, “Pecado de Pássaro”, “Chinfra do Prazer” – músicas autorais que eu fazia questão de tocar, além de outras de autores sergipanos. Ganhei tanto dinheiro que podia fazer show para o Partido dos Trabalhadores de graça, porque naquela época eu acreditava nas mensagens do partido e fui um dos fundadores.

Os jingles eram uma verdadeira febre. Fiz jingles para candidatos de direita, de centro, de esquerda, para os sem lado, os sem noção, os sem vergonha… Fiz para os que eu acreditava e para os que não me diziam nada. Todos com qualidade e profissionalismo, dentro das mensagens de cada candidato. Cheguei a compor jingles para os três candidatos a prefeito de uma mesma cidade. Falei que eu era imparcial? Alguns são marcantes, como o que fiz para um candidato de Luma grande cidade do interior de Sergipe. Recebi a encomenda dos amigos Antônio Rolemberg e Hélvio Dórea. O candidato era um tradicional político da cidade que tentava mais uma vez voltar a ser prefeito. A ideia era que a população da cidade o havia abandonado, e ele se sentia traído pelo povo, achando que havia sido injustiçado. Conhecia a história dele desde criança e sabia que ele tinha errado muito com os eleitores, mas também tinha feito muitas coisas boas para o município. Aceitei a encomenda e passei alguns dias pensando no que fazer. Resolvi compor uma canção com uma letra curta para que a mensagem chegasse rápido e com muito sentimento ao eleitor. A letra ficou assim:

“Não esqueça aquele que lhe deu a mão. Nunca esqueça não, aquele que lhe deu a mão, a maior virtude do homem é a gratidão” Com um refrão forte e que dizia o nome do candidato. Finalizando com: “É o meu prefeito, do Povo e do Coração”. Com várias vozes e guitarras, a música pegava a alma de todos e fez muita gente chorar, inclusive o candidato. Até hoje, quando encontro com o Ex-Prefeito, ele diz: “Neu, quando estou triste, coloco minha música para tocar.” Outro que diz a mesma coisa, é atual prefeito de um município querido, ele já me confidenciou que sempre coloca em casa seu jingle da primeira eleição para prefeito para ouvir, que para ele, “não é um jingle, é um hino”. Só espero que um dia ele siga o que está na letra.

Trabalhei com muitos políticos, tanto nos showmícios quanto compondo jingles, e tenho muito afeto por alguns amigos, como Fabiano Oliveira, Luciano Bispo, Cláudio Barreto, Adelson Alves, Marcelo Ribeiro, Marcelo Deda, Robson Viana, Goisinho, Edvaldo Nogueira, José Américo Fontes e meu irmão Élber Batalha.

Bem que poderiam voltar as campanhas com os showmícios, com palcos, boa música e muita animação. Assim, pelo menos, diminuiria a compra de votos, pois foi exatamente isso que aconteceu quando tiraram o dinheiro dos artistas e shows. Já estamos em época de eleição e, quem quiser um bom jingle, é só encomendar. Afinal, sempre cabe mais uma música chiclete na campanha.

*Neu Fontes, cantor e compositor
*Publicada originalmente no blog https://neufontes.com.br/tempo-bom-dos-showmicios/