Como está a sua gaiola?

Por: Michelle Nunes

Publicado em 22/06/2017 as 13:59

Hoje eu presenciei uma cena pra lá de inusitada e que me levou a uma reflexão.

Tenho um vizinho que todas as manhãs, bem cedinho, coloca os passarinhos que ele cria em gaiolas, do outro lado da rua para tomar banho de sol. Enquanto ele trocava a comida de um deles, começamos a conversar e um outro escapou. Essa não tinha sido minha intenção, mas na hora fiquei muito feliz – não gosto de ver a liberdade dos animais tolhida – e deixei escapar um: "Ele fugiu!". Mas, para minha surpresa, o rapaz falou: "Não tem problema. Ele volta".

"Como assim, volta?", pensei. Passaram alguns minutos, meu vizinho se afastou, conversou com outras pessoas, passaram carros, motos, pedestres, cães... e o passarinho ficou por perto, sobrevoando baixinho e comendo o alpiste que caía das outras gaiolas que já estavam penduradas.

Eu continuei observando de longe. Lá no fundo, torcia para que o pássaro alçasse um lindo voo e sumisse no horizonte, cantarolando uma linda canção. Enquanto eu sonhava acordada, consegui ver da janela quando o pequeno pássaro adentrou a gaiola. Meu vizinho caminhou em direção ao pássaro, e o trancou novamente em “seu lar”.

Como alguém que está preso pode sentir a liberdade, vivê-la por alguns instantes, e escolher voltar?

A princípio, fiquei assustada. Fiz uma comparação com as pessoas que são privadas de sua liberdade física. Mas essa reflexão durou pouco tempo. Logo comecei a entender que a prisão nem sempre é física. Temos diferentes “gaiolas” que nos prendem aos mais diversos padrões de comportamentos que, mesmo não parecendo agradável para alguns olhos, ou até mesmo para nós mesmos, teimamos em repetir. Ou seja, acabamos voltando para a gaiola mesmo ela estando com a porta aberta. Essas gaiolas são criadas por nós mesmos e por outras pessoas próximas a nós, criando limites que existem apenas em nossas mentes.

Por isso, muitos de nós passamos pela vida fazendo a mesma escolha do pequeno pássaro. Saímos, damos uma volta em outro ambiente e, retornamos para a gaiola, onde quer que ela se encontre.  E assim, nos adaptamos a viver na gaiola das crenças, dos julgamentos, das percepções limitadas...

Precisamos nos libertar dessas gaiolas que nós mesmos criamos. O autoconhecimento abre as portas das armadilhas mentais. No entanto, sair ou permanecer é uma decisão exclusivamente nossa. Ou você muda de atitude ou continuará voltando para a gaiola.

Agora reflita um pouco. Quais são suas gaiolas? Será que a porta está realmente trancada? Será que em alguns momentos a porta estava aberta e você mesmo decidiu ficar? Ou até mesmo, a porta fica aberta, você sai um pouco e opta em voltar para a gaiola?

Como está a porta de sua gaiola?




Michelle Nunes

Michelle da Graça Nunes é Assistente social, Terapeuta Renascedora Integrativa, Practitioner em PNL e Rebirthing Practitioner