A paternidade é rosa
A primavera é rosa, dizem. E foi nesses dias primaveris que uma garota desfilou e desfila nas ruas de Aracaju, jogando seu charme juvenil e agradável, o que fez algumas pessoas sentirem a emoção de estar vendo, ao vivo, a versão brasileira da charmosa Barbie. Uma Prefeita Barbie? Por que não?
Não é mistério para ninguém como a nossa Barbie pousou em Aracaju. Tudo muito mágico, mas a mágica faz parte da história da menina Yandra. De totalmente desconhecida, ela explode na eleição passada como a campeã de votos entre os eleitos para a Câmara Federal. Incrível! Mágico! De repente, mais que de repente, os prefeitos interioranos despejaram milhares de votos para a menina Yandra, possivelmente fascinados pelo desempenho da garota. No entanto, muitas pessoas acham que o seu pai Andre Moura foi o maior construtor dessa magia. Se essa afirmação é verdade, como o mago André conseguiu convencer os prefeitos de que sua filha era a melhor opção politica para Sergipe? Um bom mágico não revela seus truques.
Não existem dúvidas que André Moura é talvez um dos maiores lobistas do Brasil. Vou deixar claro que nada tenho contra os lobistas, desde que eles operem nos limites da lei e da moralidade pública. Entretanto, muitas pessoas falam em compra de votos para explicar a magia explosiva da menina Yandra. Tudo é possível nessa República falseada, inclusive compras de votos, uma vez que é recente a descoberta da maior quadrilha de compra de votos, o famoso Mensalão, que tanto orgulha o senador Rogério. Por falar nele, não foi mágica a sua eleição para o Senado? Ninguém esperava esse resultado, mas de repente aparece Rogério e sua mala mágica e ganha a eleição. O Brasil é o país da magia, disso não tenho dúvidas. Mas nem sempre as explosões mágicas são explicadas pela magia financeira, como foi o caso da eleição do Delegado sergipano para o Senado.
Yandra não fala no pai atualmente, talvez com medo das interpretações maliciosas, o que é natural no combate político. Emília também tenta esconder seus apoiadores, mas pai é pai, menina. Não precisa ter vergonha do pai, pois ele se desdobra para vê-la feliz, disso tenho certeza. Diferentemente de outras candidatas, ela tem um sorriso fácil e uma alegria que só as Barbis possuem, não precisando dar abraços possessivos nas pessoas, pois isso soa falso. Basta um leve toque, um sorriso meio tímido, mas embebido de sinceridade. Em verdade, ela vai para as ruas como estivesse em uma festa, distraindo-se como uma Barbie festiva, e ao lado do vereador “amigo dos amigos”, a festa está completa.
Para algumas pessoas, Yandra é uma sortuda. Se for ao segundo turno, ninguém ganha para a menina. Como se explica isso? Segundo depoimentos de muitos eleitores, a candidatura Yandra é uma candidatura reserva para algumas forças políticas. Bolsonaro, por exemplo. ao manter o amigo João Fontes ao lado de Yandra, possivelmente pensa nela para o segundo turno. No caso de Lula, apesar das fotos e declarações festivas, ele não confia mais em Rogério para seu projeto político, então permite que Marcio Macedo fique bem pertinho de Yandra.
O eleitor está a se perguntar: o que faz Yandra ter esse carisma que atrai grupos ideológicos tão distintos? Para alguns estudiosos em política, a resposta é simples. O segredo chama-se André Moura, o grande fiador da campanha da filha. Como André Moura não tem bandeira ideológica - como lobista não pode ter -, ele volta os olhos para sua candidatura no Rio de Janeiro, deixando com a filha todas as possibilidades de articulações possíveis. Assim, ele e Yandra poderão acomodar no barco municipal gregos e troianos, negociando espaços, ambições e possibilidades. Por exemplo: Com a desistência de André das eleições sergipanas, e Yandra não sendo candidata nos próximas eleições, abre-se grande possibilidade de negociação e acomodação com diversas tendências políticas.
E as possíveis mudanças tão esperadas pela população aracajuana, principalmente no tocante à educação e saúde pública? Um hospital para pets comove muitos eleitores - sempre tive cachorros -, mas como fica os hospitais para as crianças pobres? A Torre continuará o seu reinado? As empresas de ônibus continuarão com suas mamatas e seus péssimos serviços? E o aglomerando de construtoras que mandam e desmandam? Como fica a indústria de cargos em comissão que tornaram dispensável o concurso público? Esse é o retrato da administração de Edvaldo Nogueira, um homem que outrora falou em povo e mudanças.
Estou curioso como a menina Yandra enfrentará esse problemas. Não basta um sorriso alegre e se vestir de Barbie para enfrentar essas tormentosas questões. Assim como não basta vencer o rei se o princípio real é se manter intacto.
Ivan Bezerra de Sant’ Anna, advogado