Sou o País do Forró

Publicado em 09/06/2024 as 09:31
Uma pintura de Joel Dantas

Olá gente boa,

A motivação não é algo permanente, mas um processo contínuo influenciado por diversos fatores. Os festejos juninos, por exemplo, foram naturalmente cultivados em nossas mentes e corações ao longo do tempo. Lembro das fogueiras de São João e São Pedro na porta da minha casa, uma tradição que minha mãe, uma verdadeira Estanciana, mantinha. Desde a infância até o ensino médio, participei de quadrilhas juninas e, aos 10 anos, em Estância, meu avô Dede Sombrinha me ensinou a soltar Buscapé. Alguns podem chamar isso de irresponsabilidade, mas ele estava me ensinando a respeitar as tradições e a nossa identidade cultural. Foi assim que me apaixonei pelos festejos: fogos, comidas típicas, danças, ritmos, de Jackson do Pandeiro a Luiz Gonzaga. Ensinei essa cultura às minhas filhas e agora a apresento aos meus netos, enfrentando o bombardeio midiático que nos desvia da nossa herança cultural.

Chegamos à conclusão de que Sergipe é o País do Forró, uma frase da canção “Chamego Bom” de Rogério, um Estanciano de raiz. Esta identidade cultural foi gestada ao longo do tempo, com grandes arraiais em diversas cidades sergipanas, como Areia Branca, Capela, Itaporanga, Indiaroba, Rosário do Catete, Muribeca, Estância, e em muitos pequenos arraiais espalhados pelo estado.

Em Aracaju, destacam-se arraiais tradicionais de rua como o Forró da Maranhão, o Forró do Arribé na Praça Dom José Tomaz, a Rua de São João, os Barracões culturais construídos pelo então governador Antônio Carlos Valadares, no Bugio, Castelo Branco e no Gonzagão no Augusto Franco. Além disso, o Centro de Criatividade do Getúlio Vargas, criado pelo então governador João Alves Filho, traz de volta o Arraia Arranca Unha, e o Forrocaju, criado por Jackson Barreto, consolidaram-se como eventos importantes, valorizando artistas locais e impulsionando a economia.

O Forrocaju, em particular, foi um marco para a valorização dos artistas sergipanos, garantindo que a programação do evento fosse composta majoritariamente por talentos locais, o que impulsionou a economia, gerou empregos e garantiu a renda desses artistas. Lembro de ter coordenado o primeiro Forrocaju realizado no Mercado, na gestão de João Augusto Gama, mas, junto com a equipe da Conceito, conseguimos promover um evento de grande sucesso, com a participação de mais de 150 artistas sergipanos e cinco artistas nacionais, atraindo uma média de público de mais de 50 mil pessoas por dia, durante todo o mês de junho. O País do Forró estava em ascensão, pronto para se consolidar e ser conhecido em todo o Brasil.

Em 2000, Fabiano Oliveira, então Secretário de Cultura e Turismo, procurava uma ideia para uma nova campanha publicitária que destacasse os festejos juninos. Ele queria uma campanha nacional que impactasse na nova Economia da Cultura, onde cultura e turismo se entrelaçassem, gerando emprego e renda para o estado. Foi quando a Agência Conceito sugeriu a ideia de Hélvio Dórea: “Sergipe, o País do Forró”. Utilizando a música “Chamego Só” de Rogério e o próprio artista como garoto-propaganda, a campanha foi um sucesso em todo o Brasil. A marca “Sergipe, o País do Forró” se consolidou, sendo utilizada durante todo o governo de Albano Franco e por todo o ano. A campanha se transformou em um projeto de estado, abrangendo todas as ações da Emsetur, promovida em eventos como o Carnaval da Bahia e usada para vender pacotes turísticos. Isso aumentou a renda e a sustentabilidade de todos os envolvidos, movimentando o setor turístico e cultural do estado.

O objetivo era atrair divisas para Sergipe, movimentando o trade turístico e o setor cultural, tão rico e criativo. O turista americano não vem ao Brasil para comer McDonald’s; ele quer experimentar a feijoada, o acarajé. Temos muito a mostrar e apresentar ao Brasil e ao mundo. Infelizmente, muitas vezes, a riqueza produzida pela nossa tradição é desviada para outros bolsos, deixando os sergipanos de fora. Nós produzimos a boa tradição, mas quem ganha é o moderno ruim.

Sou doidinho pelos festejos juninos e acredito verdadeiramente que Sergipe é o País do Forró, um lugar de festa que acolhe todos. No entanto, estamos perdendo espaço para nossas tradições. Um país sem identidade e sem defensores de sua cultura é um país sem memória e sem dono. Devemos continuar valorizando e promovendo nossa rica herança cultural, garantindo que as futuras gerações conheçam e celebrem nossas tradições. A luta para manter viva essa cultura é constante, mas é essencial para preservar nossa identidade e nossa memória coletiva. Vivo feliz e não na sofrência!

* Neu Fontes, cantor e compositor.
* Publicada no blog neufontes.com.br