Na trilha de Bolsonaro, governo do DF promove desmonte da cultura

Publicado em 07/05/2022 as 10:24

Sofremos mais um racismo institucional, mais um ataque à nossa cultura esta semana em Brasília. Mais uma casa de matriz africana que desenvolvia seus projetos através da prática da capoeira foi literalmente tratorada. Na quarta-feira, 4 de maio, foi derrubada, por ordem do governo do Distrito Federal, o Espaço Cultural Filhos do Quilombo, comandado havia mais de 15 anos pelo contra-mestre de capoeira Lagartixa, um premiado agente cultural por seu trabalho de levar acolhimento e inclusão social à comunidade periférica da cidade-satélite de Ceilândia.

Mestre Lagartixa desenvolvia nesse espaço um trabalho com pessoas em estado de extrema vulnerabilidade e utilizava a capoeira e a cultura popular como instrumentos de formação, além de desenvolver um trabalho de inclusão social voltado a pessoas com deficiência. O Filhos do Quilombo, que já foi diversas vezes premiado, recebeu em 2018 o prêmio Cultura Viva, homenagem realizada pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal, e teve seu mestre agraciado com a medalha do Mérito Dignidade Humana, concedida pela SUBAV (Secretaria de Apoio às Vítimas de Violência), órgão da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania, em reconhecimento aos serviços prestados à sociedade brasileira. O Estado premia e o mesmo estado derruba o espaço!

Há 12 anos, vi o terreiro de umbanda da minha família, Templo Umbandista da Cabocla Jurema, entre Sobradinho e Planaltina, ser derrubado desta mesma forma. Hoje vejo que essa prática se repete, sem explicações ou comunicação do GDF. O ponto de cultura foi derrubado sem aviso prévio e com tudo dentro, atabaques, berimbaus e muitas histórias. Como nos sentimos vulneráveis, desprotegidos e impotentes diantes desses “tratores”...

A meu ver, isso configura o Estado racista trabalhando, derrubando terreiros, casas históricas como a Casa da Dona Negrinha em Planaltina, e agora derrubou um quilombo urbano, que faz exatamente o que o governo deveria fazer, que é atender aos jovens e a comunidade da periferia. Isso é intolerância religiosa, é racismo e perseguição social. O Estado se diz laico, mas na prática não é. O Estado tem o dever de proteger os vulneráveis, mas não o faz.

Sem uma política pública efetiva de apoio e segurança, os espaços de cultura que desenvolvem atividades de assistência social estão abandonados. Vemos essas casas caindo aos pedaços, como o Conjunto Fazendinha na Vila Planalto, no centro da capital brasileira, ou sendo atacadas pela intolerância religiosa e racista empoderada pelo desgoverno Bolsonaro, contra a cultura de matriz africana, como é o caso do terreiro de candomblé Xaxará de Prata, também em Planaltina.

No mesmo momento que vemos Bolsonaro vetar as Leis Paulo Gustavo, Aldir Blanc II e Orlando Brito, sofremos mais essa violência por parte do governo Ibaneis Rocha. São incontáveis os ataques à cultura. Seguimos com a nítida sensação de que estamos sendo atacados por todos os lados e em todas as direções, mas somos conscientes da nossa importância, continuamos firmes no combate ao racismo estrutural e na certeza de que é preciso fazer com urgência esse debate e essa luta em todas as instâncias da sociedade. Minha solidariedade à comunidade Filhos do Quilombo. Não vamos silenciar!

"Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de ficar vivos!"

*Revista Fórum