Rogério e Alessandro, se armam para a guerra

Publicado em 29/08/2021 as 12:56

Muita gente pensa, ao avaliar as possibilidades eleitorais dos senadores Rogério Carvalho (PT) e Alessandro Vieira (Cidadania) como candidatos oposicionistas a governador nas próximas eleições, que os dois seriam apenas candidatos de araque.

Candidatos sem voto.

Errado.

Só chega a essa conclusão quem desconhece fatos ou simplesmente alimenta preconceitos.

Muito pelo contrário.

Tanto Rogério, quanto Alessandro, são dois candidatos competitivos e podem surpreender, até mesmo serem eleitos, sim.

Principalmente se o bloco da situação que inicialmente parecia tão sólido e unido vier a ser mais severamente abalado por desmedidas ambições de uns e os imponentes “cús-doces” de outros.

O jovem senador Alessandro está em franco crescimento político por conta de sua boa atuação parlamentar no Congresso, principalmente no palco televisivo nacional oferecido pela CPI da pandemia.

E Rogério, uma velha e felpuda raposa política, afirma-se cada vez mais como estrela nacional do PT e figura estratégica e indispensável para a volta de Lula ao poder.

Como dois bicudos não se beijam, Rogério e Alessandro trocaram, essa semana, farpas e alguns beliscões no senado e demonstraram claramente que já trabalham para o que pode vir a ser futuramente um verdadeiro duelo eleitoral com unhas, dentes afiados e até canivetes e peixeiras na pré-campanha que se aproxima.

Nos recentes beliscões trocados em redes sociais, Alessandro acusou Rogério de agir por debaixo dos panos, no senado, em apoio a interesses do inimigo comum Bolsonaro e, no contra-ataque, foi acusado de traição ao povo por ter sido eleito à sombra do bosolnarismo e logo depois virar a casaca, por fazer oposição cerrada ao capitão do planalto.

Ao final, os dois com suas respectivas razões a tiracolo, suspenderam provisoriamente a encrenca, ambos concordando apenas com a frase “o povo não é bobo”.

Sim, os dois têm razão, o povo não é trouxa.

Para o senador Rogério - dizem pessoas próximas dele - seu colega de senado não seria nada confiável, enganou Bolsonaro e o próprio eleitor, tem atuação meramente policialesca, não parece respeitar muito a valor da palavra empenhada.

Para Alessandro - dizem também alguns de seus seguidores mais próximos - o senador Rogério também também seria um vacilão: teria enganado Deda, perseguido Eliane, sabotado Márcio, traído Edvaldo, feito gestões desastrosas na saúde e ainda agora estaria enrolando Belivaldo.

Ufa !
Isso é só pra começo de assunto.

Quem chega mais perto dos territórios políticos dos senadores brigões fica assustado com os dossiês que estariam sendo elaborados por ambas as equipes.

Preparem-se.

Essa próxima eleição vai ser super quente, uma verdadeira briga de foice atômica.

Já o grupo governista, se mantiver intacta sua tão apregoada estrutura política - mesmo com eventuais deserções de Rogério e talvez de outros gatos pingados - seguirá favorito com Fábio Mitidieri, Edvaldo Nogueira, Laércio Oliveira, Luciano Bispo ou Ulices Andrade - um deles deverá ser o candidato a governador - e com a sensação do momento, o recém chegado Andre Moura, esse já definido como candidato a senador.

Ainda puxando conversa sobre a base aliada do governador Belivaldo: se a preferência for por uma questão de jovialidade, será Fábio; de densidade eleitoral em Aracaju, Edvaldo; e se a escolha do candidato a governador for por questões de experiência administrativa, visão de futuro, confiança pessoal e política que desperte em todos os demais líderes e em suas reais condições para solidificar de vez a união do grupo, então aí só tem um cabra, Ulices.

Ulices Andrade, reconhecido sobretudo como um homem de palavra, mesmo quieto e recolhido lá em seu canto, cresce cada vez mais, inclusive nessas horas de maior instabilidade.

Mas, voltemos à ordem do dia.
Vamos seguir a viagem beligerante dos nossos bravos senadores

Rogério, com boa parte do PT a seu lado e com Lula lhe apoiando firmemente - mesmo o ex-presidente flertando abertamente com outros palanques - vai se fortalecer, não tenham dúvidas.

Rogério é guerreiro.

Precisará, contudo, costurar alianças esquisitas e fazer pactos tormentosos com “Deus e o diabo” nas terras de Sergipe Del’Rei.

Alessandro, por seu lado, deverá se apresentar ao eleitorado como o candidato da “verdadeira oposição”, trazendo consigo um discurso de renovação política e de moralização do serviço público.

Alessandro vai se comunicar bem junto a um grande eleitorado jovem, independente e ávido por mudanças.

E nesse campo, em confronto direto com Rogério, ele pode até levar boa vantagem.

Deixemos então a onda rolar.

Fiquemos de olho.

Afinal, como eles dizem por ai, “o povo não é bobo”.

Também acho.

*Pedro Valadares, jornalista