Briga com militante do Psol rende processo a deputado do PSL

Publicado em 15/12/2019 as 10:50

O deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que ficou conhecido após quebrar a placa da vereadora Marielle Franco, será processado por conta da última briga em que se envolveu. Ele publicou um vídeo nas redes sociais trocando acusações e "cuspidas" com uma militante do Psol nesta semana. A mulher não se opôs à gravação, mas diz que sofreu um "linchamento virtual" depois que foi marcada no post. Por isso, promete apresentar uma queixa por danos morais contra o deputado nesta segunda-feira (16).

"Vou entrar com um processo por danos morais na esfera cível para fazer ele retirar os vídeos da internet. A ação já está pronta, estou só anexando os prints das redes sociais para apresentá-la", contou Nayara Berdnasky, que no vídeo publicado por Daniel Silveira chama o deputado de fascista e recebe de volta xingamentos como "gorda", "dragão de komodo", "lhama cuspideira" e "aprendiz de Jean Wyllys".

Nayara tem 32 anos e estuda na mesma faculdade de direito que Daniel Silveira frequenta em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ela conta que a briga, ocorrida na última segunda-feira (9), começou depois que ela chegou à lanchonete da faculdade, viu o deputado tomando café e comentou que o local estava mal frequentado. "Eu comentei discretamente com o caixa, com quem sempre converso. Aí ele disse 'está falando comigo, sua petista?'", admitiu Nayara, contando que a partir daí os dois começaram a trocar acusações. Ele a chamou de gorda e ela rebateu com um "fascista". "Aí ele disse que, como era uma pessoa pública, ia filmar", contou a militante do Psol, que continuou chamando Daniel Silveira de fascista na gravação.

Como mostra o vídeo publicado pelo deputado do PSL nas redes sociais, Silveira responde Nayara dizendo que o Psol é um "partido de maconheiros, vagabundo, narcoterrorista". Ela rebate chamando o deputado de ridículo e dizendo que fascistas não passarão. Ele provoca e a moça cospe em Daniel Silveira, que depois também devolve a cuspida. Ao publicar o vídeo, o deputado ainda diz que, se fosse um homem, Nayara teria levado um soco por conta dessa discussão. Veja:


Daniel Silveira

@danielPMERJ
Vídeo em que o "Dragão de Komodo" ou "lhama cuspideira" ou "aprendiz de Jean Wyllys" ou seja lá o que for, me ataca antes e me cospe. Evidente que revidamos. Pau que dá em Chico, dá em Francisco. Tinha que ser um homem, assim, levaria um soco na boca. Vai cuspir na PQP!

Procurado pelo Congresso em Foco, Daniel Silveira disse na ocasião que só respondeu aos xingamentos de Nayara e diz que gravou a briga para que nada pudesse ser distorcido. Nayara e o Psol não se manifestaram na ocasião, mas agora decidiram se manifestar por conta dos desdobramentos da discussão.

"Eu moro em uma cidade pequena. E aqui não se fala de outra coisa. Não estou saindo de casa. Tive um dado pessoal muito negativo", justifica Nayara, explicando que 80% da sua cidade é "conservadora, eleitora de Bolsonaro". "Além disso, ele me marcou no post e incitou meu linchamento virtual. Eu fui linchada virtualmente", reclama a estudante, dizendo que precisou mudar suas redes sociais para poder tentar escapar de tantas mensagens "de teor ofensivo". "Mudei meu usuário no Instagram e desativei meu Facebook", conta Nayara, dizendo que seu ex-marido também foi atacado por Daniel Silveira nas redes sociais. "Ele disse que eu era feminista, mas sofria violência doméstica. É mentira", reclamou Nayara, que por isso resolveu recorrer à Justiça.

Em nota, a setorial do Psol-RJ disse que apoia a decisão de Nayara de apresentar uma "denúncia judicial por danos morais, pelo uso indevido da sua imagem". "Contra o machismo e a misoginia nos levantaremos sempre, por nós e por todas", explicou.

Nas redes sociais, Daniel Silveira comentou que a decisão de Nayara de recorrer à Justiça pode ser respondida com um novo processo. Veja o que ele disse:


Daniel Silveira

@danielPMERJ
A ativista do @psol , aprendiz de Jean Wyllys, resolveu usar mídia e dizer que quer me processar. Não levei a frente porque não queria prejudicá-la, mas ela está pedindo por ofício. Esse pessoal não pode ver uma má fé que diz: é minha e vou usar. #Psolmente

Apesar de ter posado ao lado da placa de Marielle Franco que foi quebrada em uma rua do Rio de Janeiro, o deputado ainda reclamou da associação ao episódio. "Trata-se de uma placa falsa, colocada sem nenhuma autorização sob um logradouro tombado pelo patrimônio histórico, ou seja, um ato de puro VANDALISMO. A placa da Marielle Franco está intacta no logradouro que foi conferido pela prefeitura para a legal homenagem", afirmou por meio da sua assessoria.

Veja a nota publicada por Nayara Berdnasky e nota do Psol-RJ:

"Eu tenho ciência da minha imprudência ao comentar que me senti incomodada com a presença do Deputado ali, na lanchonete. Acontece que não justifica o assédio moral que sofri por 18 minutos.
Foram opressões de todos os tipos: Gordofobia, quando ele se refere a mim
de forma pejorativa como uma mulher gorda; Machismo, quando -incansavelmente-
me chama de vagabunda; Fascismo, quando ele aproveita de sua condição de Deputado Federal
para dizer: ''Vamos ver quem manda aqui! PEÇA A AJUDA PARA A MARIELLE.''
Tudo isso com minha imagem exposta ao vivo e sendo intimidada fisicamente por um homem grande e forte.
Violência total!
Como se não bastasse, expôs meu ex-marido de forma caluniosa, e expôs meu perfil do instagram em seu story, para que seus seguidores me perseguissem. Essa é a tática da extrema direita. Desmoralizar em rede.
Eu não vou entrar nessa guerra. Além de ser injusta e desigual, não vale a pena! Porém, não posso me calar!
Medidas judicias devem e já estão sendo tomadas. Chega de fascismo, machismo e qualquer tipo de opressão se perderem na impunidade.
Encerro agradecendo ao apoio da minha família, amigos, PSOL RJ em especial a Deputada Monica Francisco e o dirigente
José Juis Fevereiro, que me abraçaram no meio desse furacão".

Veja também a nota enviada pelo Psol-RJ:

"NOTA DE SOLIDARIEDADE À NAYARA BERDNASKI

A ampliação da participação de mulheres na política é uma das bandeiras do movimento feminista. O Brasil tem mais da metade da sua população formada por mulheres, mas, pela sua constituição patriarcal, mulheres ainda são subrepresentadas na política.
O Psol (Partido Socialismo e Liberdade) tem muito orgulho em ter o feminismo e luta por igualdade de gênero como um dos pilares estruturante da luta por uma uma sociedade mais justa. Por isso e por sermos o único partido com uma bancada paritária na Câmara Federal, o combate do machismo estrutural, instalado na política brasileira, com força especial nos interiores, faz parte do nossa militância. Não recuaremos da luta contra o sexismo a fim de romper com o ciclo de violência contra as mulheres dentro e fora da política.

Na última semana, a companheira Nayara do município de Areal vem sendo alvo de ataques públicos em suas redes sociais por um deputado e seus seguidores com diversas ofensas e ameaças, após um desentendimento pessoal ocorrido na faculdade onde estudam.

A setorial de mulheres do Psol-RJ se solidariza e se posiciona ao lado da companheira, se a decisão for por uma denúncia judicial por danos morais, pelo uso indevido da sua imagem."

*Congresso em Foco