Aécio deve ser o único investigado na Lava Jato a ficar fora da eleição

Publicado em 12/07/2018 as 00:32

Entre os demais senadores investigados, 15 vão tentar renovar o mandato de oito anos no Senado. É o caso de integrantes das cúpulas do MDB – como o presidente da Casa, Eunício Oliveira (CE), e dos senadores Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA), Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR) –, do PT, como Humberto Costa (PE) e Lindbergh Farias (RJ), e do PP, como Benedito de Lira (AL) e Ciro Nogueira (PI).

De quase presidente da República a réu praticamente fora da disputa eleitoral. Em quatro anos, Aécio Neves (PSDB-MG) foi do céu ao inferno bafejado por denúncias de corrupção. A três meses das eleições, ele corre o risco de ser o único senador investigado na Operação Lava Jato a não disputar um mandato. Os outros 20 parlamentares que respondem a inquérito ou ação penal abertos com base nas delações da megaoperação estão em plena pré-campanha eleitoral e, salvo algum infortúnio, terão suas fotos exibidas na urna eletrônica em outubro.

Como mostrou o Congresso em Foco, a tendência é que Aécio fique fora de qualquer disputa em 2018 para não prejudicar a candidatura do senador Antonio Anastasia (PSDB) ao governo estadual. Ontem, este site voltou a confirmar a informação com pessoas próximas ao tucano. Caso mude de ideia, seu caminho deve ser a Câmara.

Entre os demais senadores investigados, 15 vão tentar renovar o mandato de oito anos no Senado. É o caso de integrantes das cúpulas do MDB – como o presidente da Casa, Eunício Oliveira (CE), e dos senadores Edison Lobão (MA), Jader Barbalho (PA), Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR) –, do PT, como Humberto Costa (PE) e Lindbergh Farias (RJ), e do PP, como Benedito de Lira (AL) e Ciro Nogueira (PI).

Também pretendem disputar a reeleição dois senadores cujos inquéritos inicialmente foram relacionados à Lava Jato, mas acabaram retirados da alça da operação pelo relator, ministro Edson Fachin: Jorge Viana (PT-AC) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Lídice da Mata (PSB-BA), que também foi afastada da Lava Jato por Fachin, é pré-candidata a deputada federal.

De todo o grupo, o único que almeja o governo de seu estado é Ivo Cassol (PP-RO), que tenta voltar para o seu terceiro mandato. Condenado a quatro anos e oito meses de prisão em 2013 pelo Supremo Tribunal Federal, por crimes contra a Lei de Licitações, ele conseguiu este ano reduzir sua pena para quatro anos. Na prática, escapou da prisão e teve sua pena reduzida à prestação de serviços e ao pagamento de multa.

Cassol responde a dois inquéritos originados da Lava Jato (3614 e 4411) por suspeita de ter recebido propina em troca de favorecimento na construção das obras das usinas hidrelétricas do Rio Madeira.

“Rebaixamento”

Além de Aécio, outros três parlamentares emparedados pela Lava Jato não vão concorrer à reeleição: Gleisi Hoffmann (PT-PR), José Agripino (DEM-RN) e Dalirio Beber (PSDB-SC). O trio tem pretensões mais modestas. Seja pelo desgaste provocado pelas denúncias, seja pela incapacidade de reunir votos suficientes para permanecer no Senado. Gleisi e Agripino são pré-candidatos a deputado federal. Suplente efetivado no mandato desde a morte do ex-senador Luiz Henrique da Silveira (MDB-SC), Dalirio deve disputar uma vaga na Assembleia Legislativa.

Apesar de ter sido absolvida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), há cerca de um mês, das acusações de corrupção e lavagem de dinheiro, Gleisi Hoffmann ainda tem contas a prestar à Justiça. Ainda existem duas denúncias e um inquérito contra a petista ativos no STF, sem data para análise.

Uma das principais defensoras da candidatura do ex-presidente Lula, Gleisi também tem tido seu nome ventilado como possível vice do petista. O favorito para o posto, no entanto, é o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

Em setembro do ano passado, a PGR apresentou denúncia contra Gleisi, os ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula, os ex-ministros Antonio Palocci Filho, Guido Mantega, Edinho Silva e Paulo Bernardo, além do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. De acordo com o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, os petistas receberam quase R$ 1,5 bilhão ilicitamente.

A senadora e outros acusados sem direito a foro privilegiado são suspeitos de terem se beneficiado de repasses de valores da empresa Consist Software, que tinha contrato com o Ministério do Planejamento para gestão de empréstimos consignados. Na época, o ministro da pasta era Paulo Bernardo, marido da senadora. Ela também é suspeita de ter recebido R$ 5 milhões para suas campanhas eleitorais à prefeitura de Curitiba (2008), ao Senado (2010) e ao governo do Paraná (2014).

Náufrago tucano

Aécio é um caso à parte. Entre os colegas tucanos há uma apreensão em torno de uma eventual candidatura, a qualquer cargo, do ex-governador mineiro, que até o início do ano passado era a principal liderança ativa do PSDB.

Agora réu no STF, o senador foi alvejado pelas delações da JBS e foi gravado por Joesley Batista, dono da empresa, em conversa comprometedora em que pede R$ 2 milhões ao empresário – a título de propina, dizem investigadores –, faz menção a negociatas e desfere impropérios contra autoridades.

Ele é alvo de uma ação penal e oito inquéritos criminais. Em um deles, é suspeito de ter recebido ilegalmente dinheiro da Odebrecht para sua campanha à Presidência da República nas eleições de 2014. O senador é acusado de receber ao menos R$ 3 milhões por meio de um contrato de fachada da Odebrecht com a PVR Propaganda e Marketing.

Em outro inquérito, extraído de outro trecho da delação de Joesley, Aécio é acusado de ter recebido R$ 60 milhões, também por ocasião de sua campanha em 2014. Segundo o empresário, o senador voltou a pedir dinheiro no ano seguinte. O delator afirma que, no episódio, a JBS fez a compra de um prédio por R$ 17 milhões para gerar pagamento de propina ao tucano. Aécio cogitou disputar uma vaga na Câmara, mas a tendência é que passe à margem das eleições para não “contaminar” seus companheiros de partido.

Estrela cadente

O senador José Agripino saiu da condição de autoridade máxima do DEM, partido que presidiu por mais de dez anos, para a condição de réu por duas vezes no STF. Depois de 24 anos de Senado, Agripino concorrerá a uma vaga de deputado federal. A manobra retira da disputa eleitoral seu filho, o hoje deputado Felipe Maia (DEM-RN), que não deverá disputar qualquer mandato.

Em uma das denúncias, Agripino é acusado por um delator de ter recebido R$ 1 milhão por meio de esquema de fraudes no Detran-RN. Também é suspeito de ter recebido propina da OAS para facilitar a liberação de recursos pelo BNDES para a construção do estádio de futebol Arena das Dunas, em Natal (RN).

Há ainda dois inquéritos contra Agripino. Em um deles o senador é suspeito de ter empregado funcionário fantasma em seu gabinete. Segundo as investigações, em datas próximas ao dia do pagamento, o assessor fazia saques em espécie e depósitos na conta de um primo de Agripino.

Em outro, aberto com base nas delações da Odebrecht na Lava Jato, é suspeito de ter recebido da empreiteira R$ 100 mil para sua campanha eleitoral em 2010.

Herdeiro

Pouco conhecido em nível nacional, o senador Dalirio Beber herdou o mandato com a morte, em maio de 2015, do então titular do mandato, o emedebista Luiz Henrique da Silveira (1940-2015).

É alvo de um inquérito no STF. Um dos diversos delatores da Odebrecht na Lava Jato disse ter repassado, em 2012, R$ 500 mil ao então suplente de senador para a campanha do também tucano Napoleão Bernardes à prefeitura de Blumenau. Naquela época, Dalirio era articulador político da campanha que elegeu Napoleão. Ele deve concorrer a uma vaga de deputado estadual.