Donald Trump se vitimiza e usa atentado para dizer que é perseguido pela Justiça

Publicado em 19/07/2024 as 11:05

Com um discurso vitimista em pouco mais de 90 minutos, Donald Trump encerrou, na noite desta quinta-feira (18), a convenção Republicana em Milwaukee que selou sua candidatura à Presidência dos EUA.

Mais ameno no tom de voz, Trump repetiu o discurso xenófobo e conservador da ultradireita estadunidense e, com um curativo na orelha - usado como adereço por aliados radicais na plateia - usou o atentado ocorrido no sábado (13) na Pensilvânia para se martirizar e fortalecer o discurso de que é perseguido pela Justiça, a mando dos opositores, replicado no Brasil por Jair Bolsonaro (PL).

“Ouvi um zumbido alto e senti algo me atingir, com muita força, na minha orelha direita. Eu disse para mim mesmo: ‘Uau, o que foi isso – só pode ser uma bala’ – e coloquei minha mão direita na orelha, a abaixei e a minha mão ficou coberta de sangue", disse, logo no início da fala.

Em seguida, o ex-presidente - e agora candidato republicano à Casa Branca - se martirizou e repetiu que foi salvo por "Deus".

“Estou diante de vocês nesta arena apenas pela graça do Deus Todo-Poderoso. Muita gente diz que foi um momento providencial", disse, diante de uma plateia em silêncio.

Trump ainda fez uma encenação com o uniforme e o capacete do bombeiro Corey Compatore, de 50 anos, que foi morto no tiroteio durante o comício na Pensilvânia.

“Ele perdeu a vida agindo como um escudo humano”, afirmou.

O republicano ainda ensaiou um discurso de união nacional - como aliados preconizavam -, dizendo que está "concorrendo para ser presidente de toda a América, não de metade da América".

No entanto, Trump não demorou para rasgar a pele de cordeiro e assumir sua verdadeira vocação, de incitar extremistas.

O Trump de sempre
Passado o momento de comoção e vitimismo, Trump retomou as vestes da ultradireita, atacou Joe Biden - que deve desistir da candidatura à reeleição - e acusou os democratas de usarem a Justiça para persegui-lo, diante da avalanche de processos que enfrenta.

"Se os democratas querem unificar o nosso país, devem abandonar esta caça às bruxas partidária, que tenho vivido há aproximadamente oito anos, e devem fazê-lo sem demora e permitir a realização de eleições que sejam dignas do nosso povo", afirmou.

Sobre Biden, Trump disse que "o estrago que ele fez no país é inimaginável, simplesmente inimaginável" e disparou fake News, afirmando que as "compras de supermercado aumentaram 50%, gasolina subiu de 60% a 70%, empréstimos imobiliários quadruplicaram" - na verdade, a inflação nos EUA durante o governo Biden foi de 20%.

O republicano ainda repetiu o discurso de fraudes nas eleições de 2020 e, em forte tom xenofóbico, prometeu retomar o muro na fronteira com o México, culpando os imigrantes pelo declínio dos EUA.

"Temos uma crise de imigração ilegal. Uma invasão massiva em nossa fronteira sul que espalhou miséria, crime, pobreza, doença e destruição em comunidades por todo o nosso território", afirmou, emendando que "eles [imigrantes] estão vindo de prisões e cadeias, de instituições mentais e asilos, e terroristas em níveis nunca antes vistos".

No cenário internacional, Trump repetiu os ataques contra os "inimigos" preferenciais: Rússia, China e Cuba.

"Encorajados por aquele desastre, a Rússia invadiu a Ucrânia. Israel sofreu o pior ataque de sua história. Agora a China está cercando Taiwan, e navios de guerra e submarinos nucleares russos estão operando a 60 milhas de nossa costa, em Cuba", afirmou.

Por fim, Trump fez nova promessa ao falar sobre a ação genocida de Israel em Gaza e afirmou que, a exemplo dos sionistas, construirá um "domo de ferro", sistema de defesa antiaéreo - para proteger os EUA.

"Construiremos um sistema de defesa antimísseis Iron Dome para garantir que nenhum inimigo possa atacar a nossa pátria. E este grande Iron Dome será construído inteiramente nos EUA. Israel tem um Iron Dome. Eles têm um sistema de defesa antimísseis".