A moralidade é azul

Publicado em 23/09/2024 as 12:11
Valmir de Franscisquinho, Emília e Eduardo Amorim

O manto da noite cobre o dia que se despede. Kali, a minha petneta, está apreensiva. Olha com olhos do medo o negrume da noite que logo se romperá o silencio. Logo aparecerá o estrondoso ruído das carreatas noturnas, conduzidas pela voz de um assustador e chatíssimo locutor que, na mesmice das suas variações de um só tema, exclama: “a nossa(o) Prefeita(o) está aqui para saudá-los, amigo eleitor”.

A novidade é que os principais candidatos são mulheres, o que não quer dizer que são independentes e empodeiradas, uma vez que virou moda o papai político alçar a filhinha para o mercado político e os chefes políticos colocarem as filhas ou as digníssimas esposas como candidatas. O que parece ser um grito de independência feminina, em nosso Sergipe bem amado, tudo não passa de uma encenação grosseira do machismo controlador. Entretanto, justiça seja feita, me parece não ser o caso da candidata Emília Correia.

Como não tenho nenhuma preferencia eleitoral - para mim tudo é seis por meia dúzia -, resolvi trazer para os leitores, pontos de vista de muitas pessoas que entrevistei dos vários extratos sociais. Dessa maneira, me limito a breves comentários sobre essas percepções do eleitorado, com a esperança de estar ajudando ao eleitor no esclarecimento das inúmeras e pavorosas dúvidas.

Por que não começar pela candidata Emília, aquela que se diz ser revolução, a musa do antisistemão, a nova caçadora de marajás? Serão verdades essas afirmações? Infelizmente ou felizmente, muitas pessoas discordam das premissas eleitorais da candidata. Como muitas pessoas não conviveram muito bem com os ideais de um certo e antigo caçador de marajás, elas se manifestaram. Vejamos:

Muitas pessoas comentaram que a candidata tem uma postura muito agressiva, e mesmo na sua nova versão “amo o povo”, ela transpira autoritarismo e possessividade com seus abraços sufocantes nos indefesos eleitores. É que o corpo fala a verdade, enquanto a fala tenta disfarçar. É a famosa linguagem não-verbal. Atitudes e sinais que o subconsciente processa, gerando antipatia ou simpatia pelo falante. Quando ambas as linguagens são sincronizadas e coordenadas, ou o candidato está dizendo a verdade ou trata-se de um grande treinamento por parte de especialistas. Ainda existem casos de políticos psicóticos - aqueles que acreditam nas suas próprias mentiras -, que naturalmente mantêm ambas as linguagens sincronizadas, fato esse que lhe dão enorme poder carismático. Entretanto, nos dois últimos exemplos - os manipuladores da linguagem não-verbal -, eles sempre, aqui e acolá, comentem deslizes corporais, pois ninguém consegue enganar “todo povo em todo tempo”.

Algumas pessoas observaram que a candidata Emília declara ser a caçadora de marajás corruptos e a inimiga maior do sistemão político, mas não explica que em tempos não muito passados, ela era do enorme e sistêmico grupo do grande governador João Alves Filho, chegando a ser nomeada Defensora Pública em um dos “trens da alegria”, mantendo-se até hoje no cargo em estado de inconstitucionalidade, uma vez que o Art. 19 ADCT da Constituição de 1988 só permitiu a estabilização em cargos nomeados sem concurso público, aqueles nomeados até cinco anos antes da promulgação da referida Constituição, ou seja: nomeados até o ano de 1983.

Outras tantas pessoas observaram que a candidata Emília diz ser a única candidata fora do sistemão econômico, mas não explica como uma pessoa sem muitos recursos financeiros mantém uma campanha milionária nas ruas, empregando especialistas em mídia política e um grande e custoso aparato de apoio eleitoral. Seria a ajuda de um dos seus aliados políticos, o homem que sempre conviveu com os sistemões - velhos ou novos, o sr. Edvan Amorim, eterno acusado de desviar recursos públicos para o aliciamento político?

Segundo outras pessoas, mais de perto, ferrenhos bolsonistas, a candidata que é de Direita, sempre teve vergonha de estar do lado do Capitão, precisando que o ex-deputado João Fontes - amigo e confidente do Capitão Jair Bolsonaro -, declarasse apoio à candidata Yandra para ela ir correndo tirar um retrato com o ex-presidente. Afinal, quem verdadeiramente o Bolsonaro apoia? Uma foto não diz nada. Seria a candidata tão inconfiável, ao ponto de pessoas do próprio grupo politico não a apoiarem? Sem falar no inexplicável apoio eleitoral ao candidato a governador pela PT na eleição passada, o sr. Pato com uma retumbante declaração de apoio, e a vereadora Emília com um silêncio conveniente.

Outro fato que desagradou alguns seguidores de Bolsonaro foi o comportamento censurador da candidata, quando se dirigiu até a Polícia Federal pedindo uma investigação rigorosa sobre as denuncias de muitas pessoas fazem na net que, segundo ela, são pavorosos fakes. Ainda segundo o bolsonistas, o sr. Bolsonaro é perseguido por manifestar suas opiniões, acusado de patrocinar fakes, e seria contraditório que uma das suas seguidoras usasse esses mesmo recursos autoritários para cercear os adversários. Afinal, dizem alguns deles, que nem todo fake pode ser considerado crime, pois sendo a maioria apenas opinião, não se pode penalizar opiniões que são os alicerces básicos de uma república liberal. E acrescentam em tom jocoso: “uma nomeação inconstitucional não é fake news, é uma verdade news”.

Ivan Bezerra de Sant’ Anna, advogado