Pandemia adia planos e encurta ano paralímpico

Publicado em 27/12/2020 as 13:08

A pandemia do novo coronavírus (covid-19) comprometeu praticamente todo o ano de 2020 no paradesporto mundial. A maior parte dos eventos previstos na temporada, entre eles etapas classificatórias para os Jogos Paralímpicos de Tóquio (Japão), foi postergado ou cancelado, tendo como ápice o adiamento do evento para 2021.

Até março, mês em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia de coronavírus, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, sigla em inglês) havia suspendido mais de 40 torneios. Alguns deles estavam marcados para o Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, como etapas dos circuitos mundiais de atletismo e natação e dois eventos da esgrima em cadeira de rodas (Copa do Mundo e Campeonato Regional das Américas). Responsável pela estrutura, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) entendeu que o fluxo de pessoas traria risco de contaminação de atletas em preparação no local. O Brasil ainda não vivenciava o auge da crise sanitária.

Ainda em março, o avanço nas infecções e as primeiras mortes por covid-19 no país levaram o CPB a fechar o CT, inclusive para treinamentos. Por cerca de quatro meses, atletas e técnicos tiveram que improvisar para se manterem em forma dentro das respectivas casas. Seguir com a motivação elevada, mesmo sem a perspectiva de competição ou da retomada de treinos in loco, foi um desafio à parte (como relatado pelo nadador Phelipe Rodrigues em julho, mês em que o Centro de Treinamento paulistano, enfim, foi reaberto, ainda que restrito a medalhistas em Paralimpíadas e nos últimos Mundiais de atletismo, natação e tênis de mesa, modalidades cujas seleções se concentram regularmente na estrutura).

Em meio às incertezas sanitárias, a comunidade paralímpica ainda levou um enorme susto com o acidente envolvendo Alessandro Zanardi. Medalhista de ouro na Paralimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, o italiano de 54 anos sofreu um grave acidente com a handbike (bicicleta impulsionada pelos braços) durante uma pedalada festiva, organizada por ele próprio para arrecadar fundos em apoio a uma instituição que recupera dependentes químicos. O evento simbolizava o renascimento da Itália após o auge da pandemia de covid-19. O ex-piloto de Fórmula 1 segue internado, submetido a várias cirurgias, mas já responde a estímulos com gestos.

O retorno às competições foi gradual. Um dos primeiros grandes eventos a ocorrer desde o início da pandemia foi o US Open. A princípio, o torneio não teria a chave dos cadeirantes, causando forte repercussão (negativa) no movimento paralímpico, que viu a decisão da Federação de Tênis dos Estados Unidos (USTA, sigla em inglês) como discriminatória. A reação pública dos atletas do tênis em cadeira de rodas ganhou apoio de tenistas da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP). A USTA acabou voltando atrás.

Não foi o único episódio de 2020 em que a voz dos atletas teve poder de mobilização. Lançado em novembro, o filme Convenção das Bruxas recebeu críticas do movimento paralímpico por mostrar as vilãs (bruxas) com má formações em pés e mãos que se assemelham à ectrodactilia, síndrome que causa a ausência dos dedos. Encabeçada pela ex-nadadora britânica Amy Marren, a #NotAWitch (não sou bruxa) ganhou a internet. Pessoas com deficiência postaram fotos pessoais com a hashtag escrita no corpo, chamando atenção justamente para o membro diferente. Tanto o estúdio Warner Bros, responsável pelo filme, como a atriz Anne Hathaway, protagonista da obra, manifestaram-se com pedidos de desculpas.

*EBC