Sanfoneiros puxam o fole e mantêm a tradição do forró pé-de-serra em SE

Publicado em 28/05/2023 as 10:16

Porque tem um sanfoneiro no canto da rua, fazendo floreio pra gente dançar. Tem o Zefa de Purcina fazendo renda e o ronco do fole sem parar”. Quem consegue ficar parado ao som da música Feira de Mangaio, que bem retrata a cultura nordestina? Comemora-se nesta sexta-feira (26), o Dia Estadual do Sanfoneiro, instituído por meio de um projeto de autoria do então deputado estadual, Iran Barbosa (PT). Com a sanção da Lei nº 9046/2022, aprovada na Assembleia Legislativa de Sergipe, a data foi inserida no Calendário Oficial de Eventos do Estado visando homenagear os músicos, divulgar a história e a importância para a formação da identidade e cultura sergipanas. No Brasil, a data é comemorada em homenagem ao paraibano Sivuca (Severino Dias).

Com a chegada dos festejos juninos, contratar sanfoneiros não é tarefa fácil, a maioria influenciada por Luiz Gonzaga, Sivuca e pelos pais, avôs e até bisavôs. “Essa é a melhor época do ano, principalmente na região Nordeste. É quando a gente trabalha muito, mas a recompensa vem e não é apenas financeira. É maravilhoso ver as pessoas dançando e se divertindo”, diz o sanfoneiro Rosenildo Pereira, conhecido por Kui (31), que vem sendo contratado para animar eventos em todo estado de Sergipe.

Nascido na cidade de São José do Egito, em Pernambuco, o sanfoneiro Kui mora em Aracaju há oito anos. “Mas eu não vim de Pernambuco direto pra cá; já vim de São Paulo, mas lá a gente tocava outro estilo, o sertanejo. Eu toco desde os 14 anos de idade. Minha família tem a tradição de tocar acordeon e meu bisavô tocava o instrumento de botão chamado concertina. Eu faço o que gosto: trabalho e me divirto ao mesmo tempo”, reitera.

Sergipanos
Falar sobre sanfoneiros sergipanos, não dá pra esquecer Erivaldo de Carira e o filho Mestrinho (conhecidos nacionalmente), Jailson do Acordeon, Zé Américo de Campo do Brito, Adauto do Acordeon, Lucas Campelo, Evanilson Vieira, Robertinho dos 8 baixos (filho de Clemilda e Gerson Filho), entre vários que comandam os forrós durante os meses de maio, junho e julho, por todo estado de Sergipe. Entre os que partiram, mas continuam vivos na memória da população, estão Josa, o Vaqueiro do Sertão e Edgard do Acordeon.

Erivaldo de Carira costuma afirmar que “canta aquilo que os outros não querem cantar mais”. Isso pode ser percebido principalmente pelo fato de o músico tocar sanfona com o fole fechado, com um alto grau de dificuldade.

Orquestra

Fundada em 2007 por iniciativa do prefeito Edvaldo Nogueira, a Orquestra Sanfônica de Aracaju agrega músicos de todas as idades, mantendo viva a tradição de puxar o fole da sanfona; fazendo a festa de sergipanos e turistas. Fora de Sergipe, a orquestra formada por cerca de 30 músicos já se apresentou em vários estados, a exemplo do Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

O maestro e professor Evanilson Vieira, é natural de Simão Dias. Nasceu cego, tendo recuperado após várias cirurgias, menos de 10% da visão. Encontrou na música e no rádio, o estímulo para dar sua contribuição à cultura nordestina, especialmente a sergipana. Começou tocando triângulo, estudou piano no Instituto para Cegos de Salvador (BA), mas se identifica mesmo é com o acordeon.

Surgimento

Criado na China há mais de 5 mil anos, o instrumento era formado por um recipiente de ar, um canudo de sopro e tubos de bambu. Em 1822, o fabricante de instrumentos europeu Friedrich Ludwig Buschman fez um instrumento de sopro, utilizando o sistema de palhetas; o austríaco Cyrillus Demien acrescentou o fole.

A sanfona chegou ao Brasil por meio de imigrantes alemães e italianos aos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, agradando aos moradores de todas as regiões do país. Mas foi com Luiz Gonzaga, conhecido como o “Rei do Baião”, que o instrumento se difundiu, formando grandes ícones da música nordestina como Sivuca e Dominguinhos.

*Alese