Colorido do bordado filé de Alagoas encanta artesãs francesas

Publicado em 05/12/2022 as 06:13

Artesãs brasileiras, as filezeiras alagoanas – bordadeiras que usam a técnica do bordado filé – mantém diálogo e trocam experiências com artesãs da França que usam o bordado para preservar a cultura da região. A iniciativa partiu das brasileiras, em meio ao processo de organização e defesa do artesanato que virou símbolo do estado e é fonte de renda para muitas famílias que vivem na Região das Lagoas Mundaú e Manguaba.

Em 2019, as artesãs enviaram uma carta e várias peças bordadas de presente para a Maison Du Filet Brodé, que tem sede na cidade de Plouénan, na região da Bretanha. O nome filé vem do francês filet e significa rede. O artesanato consiste em bordado sobre uma rede parecida com a da pesca. Apesar da origem francesa da palavra, há estudos que indicam que o filé pode ter surgido na Pérsia ou no Egito Antigo. A prática está presente em vários países da Europa e tem destaque na Península Ibérica.

O interlocutor das artesãs alagoanas na França foi o antropólogo e professor da Universidade Federal de Alagoas, Bruno Cavalcanti. Segundo ele, o material enviado do Brasil “teve uma recepção muito boa, muito positiva” e virou notícia nos jornais locais. O antropólogo observou que as francesas não fazem uso comercial do artesanato. Elas bordam para preservar a cultura da região. “E, aqui, nós temos uma situação inversa, já que a atividade está ligada à subsistência, à luta pela renda familiar. O processo de incorporar o valor patrimonial envolve educação, conhecimento, valorização do que se faz e isso leva um certo tempo e precisa também de certos elementos estimuladores.”

Conhecer as origens e comparar a técnica de bordado feita em outros estados e países fazem parte do fortalecimento do filé, acredita Marta Melo, arquiteta e consultora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

“A gente começou a identificar livros e manuais de outras regiões enquanto as artesãs cumpriam as exigências para reconhecimento da Região das Lagoas Mundaú e Manguaba como Indicação Geográfica do bordado filé.”

As bordadeiras tiveram que colocar no papel os critérios que definem um autêntico filé. O resultado foi o Caderno de Instruções do Filé, que reúne pontos tradicionais, cujos nomes são bastante singulares, como besourinho, jasmim, olho de pombo, caneludo, entre outros.

“Nós, filezeiras, não sabíamos que o filé tinha vindo junto com os colonizadores, que o filé é antigo, então isso fez com que a gente tivesse muito orgulho de fazer um trabalho milenar. E isso foi o que despertou na gente a vontade de aprender muito mais sobre essa história”, afirma a artesã Petrúcia Ferreira Lopes, vice-presidente do Inbordal.

A partir do contato com as francesas, as artesãs passaram a estudar os tutoriais em vídeo produzidos pelas colegas europeias. Segundo Marta, mesmo em outro idioma, elas têm facilidade para entender a mensagem porque a técnica é praticamente a mesma.

A presidente do Inbordal, Maylda Cristina Soares da Silva, contou que o ponto que as francesas chamam de espiritual é conhecido por elas como ponto antigo. “Eu aprendi que a técnica delas é mais fácil e eu estou usando”, conta.

*EBC