Os Simpsons deixarão de ter atores brancos na dublagem de personagens não brancas

Publicado em 29/06/2020 as 08:25

Os Produtores da série de animação “Os Simpsons” anunciaram que vão reformular seu elenco de vozes e atores brancos não serão mais responsáveis por dublar personagens de outras etnias.

O anúncio foi feito poucos dias depois de outras séries de animação produzidas nos Estado Unidos divulgarem que vão realizar mudanças pensando em ampliar a diversidade, como “Family Guy”, “Central Park” e “Big Mouth”.

A decisão vem na esteira das manifestações que tomaram as ruas não apenas dos EUA, mas também de vários outros países, após o assassinato de George Floyd por um policial branco em Minneapolis, em maio.

Em comunicado emitido na sexta-feira (26), os produtores afirmam que “dando um passo em frente, os Simpsons deixarão de ter atores brancos a dar voz a personagens de cor”.

No ar há 30 anos, “Os Simpsons” é uma dos programas de TV mais populares do mundo e seus produtores sempre resistiram a promover mudanças em seu elenco de vozes.

A discussão ganhou visibilidade e maior intensidade em 2017, quando o comediante Hari Kindabolu estreou um documentário, “The Problem With Apu” (o problema com Apu), em que criticava os estereótipos raciais projetados no personagem Apu Nahasapeemapetilon.

Na história de “Os Simpsons” Apu, dono de uma loja de conveniência, é descende de uma família da Índia. Há cerca de cinco meses, o ator branco Hank Azaria largou o papel e Apu sumiu de novos episódios.

Agora, além dele, também devem ganhar novos dubladores o médico Dr. Hibbert e Carl Carlson, amigo do protagonista Homer Simpson.





# intocável na sétima arte, e lhe dão sinal verde para o projeto que quisesse, como o filme recifense “Piedade” (2019) de Cláudio Assis, uma das pré-estreias online do Espaço Itaú Play.


Versando sobre um conflito familiar na disputa de territórios por uma inescrupulosa companhia de petróleo, o filme vinha com alta expectativa e diversos adiamentos na pós produção até estrear no 52º Festival de Brasília ano passado com um elenco reluzente, somando nomes como Matheus Nachtergaele, Irandhir Santos e Cauã Reymond. Talvez os atrasos do filme, a tentativa de fazer jus a cada nome como coprotagonista, descentralizando a força do fio condutor, e a dramaturgia um pouco novelesca tenham deixado de alcançar o almejado a contento… Sem falar em subtramas descartáveis e a ausência do parceiro habitual na fotografia, Walter Carvalho, substituído aqui por Marcelo Durst. Mas Fernanda mostra que subsiste a quaisquer altos e baixos e ainda rende a cena mais bela, com um terno abraço além do espaço-tempo no personagem de Cauã (outro que surpreende acima da média do filme).



Numa outra chave, podemos citar Marcélia Cartaxo como uma camaleoa que vem mudando cada vez mais de acordo com a necessidade de sua personagem, como o naipe de Meryl Streep. Cartaxo, aliás, já atuou ao lado de Fernanda Montenegro, como a personagem Macabéa no clássico “A Hora da Estrela” (1985), ambas dirigidas pela cineasta Suzana Amaral, recém falecida no dia 25 de junho deste ano aos 88 anos (e que ainda deixou projeto de um filme inédito a ser lançado postumamente). Marcélia já vinha brilhando em novas obras-primas como “A História da Eternidade” (2014) de Camilo Cavalcante, ao lado do supracitado Irandhir Santos e Zezita Matos, e possui outros filmes inéditos no circuito como “O Seu Amor de Volta” de Bertrand Lira. Contudo, foi com a poesia em movimento “Pacarrete” (2019) de Allan Deberton que Marcélia criou talvez uma das atuações mais brilhantes desta década para dar conta do transbordamento da realidade alcançado pelos delírios da personagem.



Disponível igualmente no Festival Espaço Itaú Play, “Pacarrete” é uma finíssima composição artística de cumplicidade entre diretor, equipe técnica e elenco (que conta com parceiras de longa data de Cartaxo, como Zezita Matos e Soia Lira, sem falar em João Miguel). Baseada em fatos reais, a personagem-título era uma figura excêntrica do interior do Ceará da infância do diretor, que se vestia de forma esdrúxula para o calor da cidadezinha, com chapéus e luvas de renda, e sonhava em se tornar uma bailarina. Cômico e ligeiramente histriônico, o que parecia apenas uma caricatura vai ganhando contornos bastante respeitosos, especialmente após uma grande reviravolta que ficará ao sabor do espectador experimentar, tornando-se um filme liricamente dramático, com possibilidade de uma catártica redenção. Cartaxo decerto revisita vários elementos de sua Macabéa aqui, e completa um ciclo virtuoso em diálogo com suas várias personas ficcionais.

Agora, lembrando de Scarlett Johansson, cujos papéis tentam transcender o estereótipo que lhe é dado, decerto Regina Casé talvez seja a atriz a melhor incorporar certo biotipo esperado da população brasileira. Ela geralmente é escalada no papel de mãe por excelência, ou mesmo a representar profissões populares, como no sucesso “Que Horas Ela Volta?” (2015) de Anna Muylaert. Talvez o retorno a este padrão faça a atriz ser associada apenas a este tipo de papel, como a novela recente “Amor de Mãe” de Manuela Dias… Porém, é justamente por transcender essa expectativa, seja com seu misto ímpar de humor e carga dramática, que passeia entre fazer piada e fazer chorar em poucos segundos, que Casé seja tão valorizada nestes papéis sem estreitá-los jamais.



Isto pode ser comprovado no novo “Três Verões” (2019) de Sandra Kogut, sobre uma governanta que guardava a casa de veraneio de uma família rica até o patriarca ser preso. É neste momento que as dívidas irão acumular e os funcionários serão até acusados pela corrupção dos donos da casa vazia, mas farão uma pequena revolução com os bens deixados para trás – uma crônica social muito próxima do que o país anda passando. Porém, como o título já diz, a trama se passa ao longo de três verões, como três episódios distintos, e, como todo filme episódico, pode ser visto com forças diferentes para cada segmento. Enquanto o primeiro traz a típica introdução de personagens com ótimo trato no humor, o segundo eleva o filme para uma verdadeira revolução marxista na tela, e o terceiro leva o filme para um lugar completamente diferente que pode ou não superar as expectativas criadas a partir do segundo. E decerto o minimalismo à la Yasujiro Ozu e a experiência de Sandra Kogut com conflitos sociais em territórios tensionados (como em “Campo Grande” de 2016 e “Um Passaporte Húngaro” de 2001) decerto auxiliaram aqui, mas foi Regina Casé quem conseguiu amarrar as idiossincrasias e entregar algo novo a partir do arquétipo para o qual sempre parece regressar, porém de forma refinada.

O Festival Espaço Itaú Play fica até o dia 29 de junho (sendo que os filmes alugados ficam disponíveis até 48h), mas vale a devida homenagem em sugerir que se revisite a obra da saudosa cineasta Suzana Amaral, previamente citada, toda disponível no youtube gratuitamente, bastando clicar nos títulos a seguir: “A Hora da Estrela” (1985), “Uma Vida em Segredo” (2001), “Hotel Atlântico” (2009).


*Revista Fórum