Juíza que substituiu Moro na Lava Jato autorizou operação contra PCC

Publicado em 24/03/2023 as 08:42

A Operação Sequaz, da Polícia Federal, deflagrada na última quarta-feira (22) culminou com a prisão de nove pessoas e o anúncio público de que o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da Lava Jato, e outras autoridades estariam sob risco de morte após terem sido “decretados” (sentenciados à morte, no jargão criminoso) pela maior organização criminosa do país, o PCC. A operação foi chancelada pela juíza Gabriela Hardt, que no fim de 2018 substituiu o próprio Moro na Operação Lava Jato, quando o ex-juiz pediu exoneração para assumir em 2019 o Ministério da Justiça e Segurança do governo Bolsonaro.

Ainda na Lava Jato, foi Hardt quem assinou a sentença do presidente Lula (PT) sobre o processo do sítio de Atibaia (SP). Ela chegou a ser acusada de plagiar uma decisão de Moro sobre o suposto apartamento do Guarujá, mas depois explicou que seria comum usar decisões de colegas como base em processos semelhantes. Dessa vez, foi a magistrada quem assinou os mandados de busca e apreensão cumpridos na Operação Sequaz. Ela assumiu o caso, que está na 9ª Vara Criminal de Curitiba, após a magistrada titular sair de férias.

A partir do anúncio de que Moro seria um dos visados pela quadrilha, a extrema direita e outros setores políticos próximos do senador paranaense passaram a fazer uma ilação amalucada que de que Lula estaria tramando a morte de Moro, tentando reavivar uma fantasiosa teoria de conexão entre o PT e facções do tráfico de drogas.

Para dar mais consistência ao argumento foi usada uma declaração do presidente Lula (PT), dada um dia antes, de que na época em que esteve preso ele só queria “foder o Moro”. Na mesma data, e portanto um dia antes da operação Sequaz, o ex-juiz reagiu dizendo que sua vida estaria ameaçada.

Lula esteve em Itaguaí, no Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (23), onde participou de uma cerimônia numa base da Marinha do Brasil, e ao lado de autoridades dos três poderes e de militares afirmou, durante uma entrevista, que a tal ameaça de morte vinda do crime organizado ao senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-juiz da Lava Jato que o condenou e o colocou 580 dias na cadeia, foi “visivelmente armada” pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro.

“Eu acho que é mais uma armação do Moro... Mas eu vou ser cauteloso, eu vou descobrir o que aconteceu... É visível que é uma armação do Moro... Mas eu vou pesquisar, eu saber o porquê da sentença, até porque a juíza nem estava em atividade quando deu o parecer pra ele... Mas isso a gente vai esperar, eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas... Eu acho que é mais uma armação e se for uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda, sabe? E eu não sei o que ele vai fazer da vida se ele continuar mentindo do jeito que tá mentindo”, declarou Lula.

A principal razão pela qual Lula suspeita que a operação tenha sido uma armação, dizem interlocutores, jaz no transcorrer dos acontecimentos. No dia seguinte à troca de farpas pública, quando Moro afirmou que estaria em risco, uma magistrada que mantém ligações com o ex-juiz autorizou a operação. A narrativa ao mesmo tempo que coloca Moro como alvo dos criminosos, também reforça o argumento das supostas ligações do PT com o crime organizado. Imagina-se que alguém da Polícia Federal ou dos serviços de inteligência tenha relatado algo ao presidente, dado que ele afirmou categoricamente acreditar na possível farsa. Em todo caso, ainda não há confirmações nesse sentido.

Como um contraponto, fica o questionamento de que, se realmente isso teria sido uma farsa, seria estranho o apoio da PF à narrativa sustentada pela operação. Ainda faltam lacunas a serem preenchidas para compreender este quadro.

*REVISTA FÓRUM