Acesso dos pobres à água só é possível com controle social, dizem especialistas

Publicado em 21/03/2018 as 21:14

Devido ao rápido crescimento urbano, as populações das cidades enfrentam o desafio da desigualdade no acesso à água e saneamento, onde os mais pobres são os mais vulneráveis. Para universalizar esses serviços públicos essenciais, especialistas afirmam que a gestão participativa e o controle social dos recursos são necessários para criar um sistema sustentável.

Para o presidente da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento, Aparecido Hojaij, os grandes problemas de saneamento ocorrem por falta de políticas públicas adequadas, que deveriam ter a participação da sociedade na sua implementação. “O controle social e a regulação dos serviços é o fator principal para avançar e resolver os problemas, buscando alternativas para as diversas regiões, as políticas não podem ser as mesmas”, disse.

Hojaij contou a experiência da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) desenvolveu um programa social de consumo responsável da água. Segundo ele, a empresa atende ocupações irregulares, onde existem perdas de água, instalando hidrômetros e rateando os custos entre os consumidores, tudo acompanhado pela própria comunidade.

Paralelo a isso, existe um trabalho social, de educação ambiental, de conscientização da importância da água. O programa já atendeu 32 mil pessoas em 19 comunidades de Porto Alegre.

“Precisamos investir em pessoas, precisamos dar poder para as mulheres e os jovens e trabalhar conjuntamente”, disse a representante da Parceria Global pela Água, Mukta Akter, de Bangladesh, contando sobre o trabalho da organização na capacitação e desenvolvimento da liderança dos jovens.

Segundo ela, 25% da água do município são demandadas pelas mulheres e 30% pelos jovens. “Eles são os que mais usam água e precisam ser levados em consideração para sabermos de suas necessidades específicas”, disse. Mukta contou ainda que os pobres na área urbana de Bangladesh chegam a 30% da população. “A falta de fornecimento de água faz com que as pessoas mais pobres sofram com isso, tanto em qualidade como em quantidade. São os mais vulneráveis”, ressaltou.

A especialista disse ainda que os investimentos são insuficientes e que há 30 anos a rede de água e esgoto não é renovada no local. “Os planos já têm sidos desenvolvidos, mas a implementação precisa começar imediatamente”.

Durante a sessão especial Pobreza Urbana e Água, realizada hoje (21) no 8º Fórum Mundial da Água, representantes de governos locais, concessionárias, organizações não governamentais e grupos comunitários trocaram experiências sobre como diminuir a lacuna na prestação de serviços de água e saneamento nas cidades.

Para a diretora executiva da instituição Saneamento e Água para Todos (SWA, na sigla em inglês), Catarina Albuquerque, é preciso olhar quem está sendo deixado para trás no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e reverter os investimentos para eles. “Esses que estão sendo esquecidos serão os mais pobres e vulneráveis”, disse. “No cenário urbano, isso significa as pessoas que moram em favelas, elas precisam ser contadas”.

As estratégias para levar água e saneamento para todos precisam ser traçadas pelos governos, mas, para Catarina Albuquerque, todos precisam ser ouvidos. “As organizações da sociedade civil precisam ter partes iguais nessa luta. Todos têm algo a contribuir para achar e eles devem ser ouvidos por estar mais familiarizados pelas necessidades”.