AS AMARGAS, SIM
Por: Paulo Fernando MoraisSábado, pé de quiabo, dia de feira em Maruim. Meu pai me colocava no cabeçote da sela, e lá íamos na passada de Buick à cidade. Animal extraordinário, macio, deslizava na piçarra. Parece que estou sobre ele, agorinha, flutuando com sua marcha nobre, inventada para montarias de reis.
À noite, cinema. Que dia!, o dia de sábado para o menino da usina Pedras era passado ao lado de Deus. Mas quero falar sobre o tempo, este elemento voraz, apagador perverso que vai desbotando da minha mente a fisionomia de meu pai. Na busca da imagem fugidia, procuro momentos felizes que passamos juntos, e vejo traços irregulares, obscuros, nada que reconstitua o rosto do velho Mário.
De repente, vejo-me sentado na cama, um homem aproxima-se de mim com o semblante sério, manda que eu abra a boca, traz numa das mãos uma colher de sopa com óleo de rícino e na outra, uma banda de laranja. É ele.
Paulo Fernando Morais
Paulo Fernando Morais é Jornalista e Escritor