Saudade de Saramago

Por: Nestor Amazonas

Publicado em 19/11/2017 as 21:20

Ontem foi aniversário de José Saramago, meu norte na fantasia e na realidade, completaria 95 anos, e há 7 anos se foi sem mágoa nem tristezas.

Um dos seus últimos lançamentos foi um e-book da Companhia das Letras, O Conto da Ilha Desconhecida. 
Como sempre, imperdível, para quem gosta de boa literatura.

Um homem vai ao rei e lhe pede um barco para viajar até uma ilha desconhecida. O rei lhe pergunta como pode saber que essa ilha existe, já que é desconhecida. O homem argumenta que assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas.

Este pequeno conto de José Saramago pode ser lido como uma parábola do sonho realizado, isto é, como um canto de otimismo em que a vontade ou a obstinação fazem a fantasia ancorar em porto seguro.

Antes, entretanto, ela é submetida a uma série de embates com o status quo, com o estado consolidado das coisas, como se da resistência às adversidades viesse o mérito e do mérito nascesse o direito à concretização.

Entre desejar um barco e tê-lo pronto para partir, o viajante vai de certo modo alterando a ideia que faz de uma ilha desconhecida e de como alcançá-la, e essa flexibilidade com certeza o torna mais apto a obter o que sonhou.

"...Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não saímos de nós...", lemos a certa altura. 
Nesse movimento de tomar distância para conhecer está gravado o olho crítico de José Saramago, cujo otimismo parece alimentado por raízes que entram no chão profundamente.
(by release da Companhia das Letras).

Se não sais de ti, não saberás quem és...

Saramago é espetacular. Recomendo.




Nestor Amazonas

Nestor Amazonas é jornalista, trabalhou nas emissoras da Rede Globo (SE/BA), Rede Manchete (PE/RJ e SP) e Grupo Abril.